sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

vista daqui uma vida (as personagens fictícias reservam-se o direito à privacidade)

sábado um dia, como fazia todas as manhãs, na casa da aldeia portuguesa com galos a cantar e carros de bois pela estrada de terra, afastou o lençol mijado saiu da cama tirou imediatamente o pijama e abriu a persiana para dar os bons dias ao chinha. o china vivia no quintal numa barraca de cimento preso por uma corrente que a menina estava sempre a soltar. olhou para baixo para dar os bons dias ao chinha. mas ele não saiu da barraca. voltou a chamar. chinha chinhaaa mas ele não saiu da barraca. foi nua a correr lá abaixo. chamou. espreitou. ele mantinha-se na barraca, quase sem reacção. olhava a sua dona. companheira, digo. mas no seu olhar não havia expressão. isso não podia ser. chamou a mãe ou o pai ou ambos não se lembra. diagnóstico estabelecido. qual? é fatal. mais vale o bicho não sofrer. mas. e a dona? Chinha. reage. não vês o que os maus estão a dizer? vão chamar outro mau. e vão levar-te. e. chinha. e a dor que se estreia. e a dor. qual é o significado dos prazeres agora? sem o companheiro com quem partilhava. A estreia. aprender que haverá espaços vazios. espaços vazios que não voltam a ser habitados. espaços que ficam. ficam sem utilidade que não a da cicatriz. digo. não. espaços vazios cheios de espaço.



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