sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

já disse que o melhor lugar do mundo é a minha cama?

e se tivesse desta roupa de cama era capaz de ser um bocado mais difícil sair de lá

made in Tires

silêncio esforçado

Tudo isto poderia ser escrito a azul sobre branco, daquele azul do meu vestido, o vestido que toda a gente que me conhece sabe qual é, portanto sabe de que azul falo. É aquele que acompanha a minha degradação. Um dia, um de vós dirá de mim aos outros, após reencontrar-me na rua: “her famous blue dress was torn at the shoulder”; seguir-se-á um silêncio curto.
Não escrevo a azul sobre branco porque não me apetece ser fácil, se é que me apeteça ter a ingenuidade de que controlo seja o que for. O tom com que escrevo, esse impus-mo quando me lembrei de levar o CD do L.Cohen para o carro, essa taciturnidade.
E tudo num profundo silêncio.
Não falo vai fazer cerca de 2 semanas, se quisera ser exacta (se-lo-ei, então) direi que não falo há (pausa para fazer contas) (um post-it): 10 dias e cerca de 18 horas. Sou afortunada pois, neste tempo, ninguém me pediu que fale. Enfim, se mo exigissem não sei que se seguiria, um tranquilo momento de afonia ou, pior, de tanto puxar pela goela talvez se rasgasse o meu vestido. Confesso que me custaria ver rasgado o vestido.
fotografia de Forced Labor (blue sand), Liliana Porter

by Available Light

"Nudes by Available Light" by Wil Blanche

*diz que* escrevem com fúria


pssst: clicar na imagem ;)

autores

Penso que um dos principais objectivos da grande literatura – daquela que faz ferida – é desmascarar e lutar contra a hipocrisia. A questão é saber o que se entende por grande literatura. Orwell? Bukowski? Miller (Henry, not Arthur)? Sem qualquer dúvida: Céline. Ele é, por excelência, o grande desconstrutor da hipocrisia humana. Basta ler Viagem ao Fim da Noite. Mas não podemos esquecer Morte a Crédito, e, também, os relatos de Castelos Perigosos e Norte. Céline combateu sempre a hipocrisia. Até a sua (que, a bem da verdade, tinha uma boa dose dela). É claro que as simpatias nazis não o favorecem. Não fica muito bem na fotografia – como é costume dizer. Mas quem disse que ele queria ficar bem na fotografia? Para mim existem dois tipos de autores. Melhor: três. Os que querem ficar bem na fotografia; os que não se importam de ficar mal na fotografia; os que abdicam da fotografia. São estes dois últimos que me interessam, inspiram. O problema está em admirá-los e, ao mesmo tempo, querer ficar bem na fotografia.

por manuel a. domingos in meia-noite todo o dia

A VIDA QUE NÃO VIVI

Quando, à minha volta, as pessoas se envolvem em discussões mais ou menos inflamadas sobre quem é quem, quem foi o quê, lembro-me sempre de Jesus Cristo na cruz e de Lenine na tumba. Mortos, nada mais que mortos, vamos todos tentando justificar a vida com altercações inconsequentes. Daqui a nada estamos enterrados. E depois ninguém poderá queixar-se da vida que não viveu.

por Henrique n'Antologia do Esquecimento

para que nela possamos caber

«Encaro hoje a memória como uma massa muscular que é possível trabalhar num sentido ou noutro. Que músculos do braço pretendemos desenvolver? E como? Existem uma série de diferentes exercícios que podem ser executados para valorizar este ou aquele. Agimos dessa forma com a memória, quase sempre inconscientemente, porque precisamos de nos adaptar aos discursos de época, para que nela possamos caber.
(...)
Tal como os músculos, a memória pode igualmente atrofiar e perder capacidades, por falta de uso. Acredito que a maior parte das pessoas que fixa uma história pessoal inalterável, a qual repete ao longo dos anos com a mesmíssima semântica, acredita piamente no que relata. Mas todas as construções da memória são valiosas e merecem ser ouvidas. Não há uma memória melhor do que outra. Há é memórias que podem provar-se, e outras que não.»

Isabela Figueiredo in Das castas entre os retornados

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«Os nossos cérebros são bons a registar datas e factos que podem ser esquecidos quando já não são necessários. Mas nada do que é bem guardado nos nossos corações alguma vez se perderá.»

surripiado ao Rui Bebiano n'A Terceira Noite 

a tentar regressar :)