sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

[ na entrada do quarto encontro troncos de árvores ]

Photobucket magnólia, Porto 2007
na entrada do quarto encontro troncos de árvores que
como vasos sanguíneos atravessam o chão que me ampara
e o tecto que me cobre enquanto afasto do meu olhar folhagens imaginárias.
quando chegar o último sono de inverno
por entre as sombras da mata e o voo dos corvos
quero sentir os teus joelhos dobrarem as minhas pernas
enquanto me abraças os ombros a partir dos cotovelos desarmados
inclinar o rosto sobre o teu peito e sentir as tuas mãos recolherem
da minha face a caligrafia dos terrores diurnos

e sentir na pele a luz a terra húmida e perfumada.


Cláudia Santos Silva aka blue

Petição contra a Mutilação Genital Feminina [ um clique, por favor ]

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http://www.respect-ev.org/index.php?lang=pt




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Scarlata

ring-around-a-rosie

Quando, de alguma forma, se é outsider, é natural (d'a natureza das tribos) o indivíduo ver-se negado de certas regalias de pertença à tribo; este facto pode mascarar-se e parecer um mal-maior. Sendo que a nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer*, sucede-se o pensamento do dia: É importante mantermo-nos focados no declínio das regalias de tribo em favor da leveza da genuinidade.
Ring around a rosie!
Ring around a rosie, a pocket full of posies. Ashes, ashes, we all fall down!
We all fall down!

Children Playing "Ring around a Rosie", Edwin Rosskam
Chicago, 1941


*A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer de Stig Dagerman
Fenda ed., 1995

Notícias de Deus

/296/

Queridas filhas:

Não creio nos filósofos, mas cativou-me sempre a sua audácia de pensar.
É bonito, leiam-nos.
Quanto aos poetas (o pp. foi um deles) sorriam-lhes de longe.
Mas atenção aos grandes músicos, à sua estranha perfeição, à nostalgia que nos invade ao escutá-los.
Quando encontrarem um, não o deixem escapar.
Poderia pensar-se que nos trazem (os músicos) notícias de Deus.
É mais: como Deus não existe, eles têm de forjá-las.

In Albas de Sebastião Alba
Biblioteca Primeiras Pessoas 2, Edições Quasi, 2003


vonsia

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canino desconhecido, Seia 2008

* bom-dia, segundo Mafalda do Quino

[ dias há que na alma ]

Não é nada. ok, é alguma coisa, mas já passou a pior parte.
Correu tudo bem, porém sei que as minhas orelhas só saem desta posição quando ouvir dizer "Já está para ali, toda contente, a brincar... ".

saber servir-se d'ella

... um dia a loucura virá plo seu proprio pé bater à tua porta, e tu, desprevenido, e tu sem mãos para a esganar, porque a loucura já será maior do que na palma da tua mão, porque a loucura será maior do que as tuas mãos, porque a loucura poderá mais do que tu com as tuas mãos; e ella fará de ti o pior de todos, por não teres sabido servir-te d'ella como tu devias sabe-lo querer!

in Uma cruz na encruzilhada
A invenção do dia claro de José de Almada-Negreiros
Colares Editora, 1993

O Grito de Edvard Münch, 1893

Winter time

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Seia, 2008

A larangeira ao pé da nora já me conhecia - punha-se a fingir que era o vento que a fazia mexer.

in A Viagem ou O que não se pode prevêr
A invenção do dia claro de José de Almada-Negreiros
Colares Editora, 1993

amanhã

chez manjerico haverá orações felinas por uma certa amiguinha

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felino desconhecido, Seia, 2008

This derangement.

Reclining Nude, Amadeo Modigliani
1919

Attachment creeps in. The eternal problem of attachment. No, not even fucking can stay totally pure and protected. And this is where I fail. The great propagandist for fucking and I can’t do any better than Kenny. Of course there is no purity the kind Kenny dreams of, but there is also no purity of the kind I dream of. When two dogs fuck there appears to be purity. There, we think, is pure fucking, among the beasts. But should we discuss it with them, we would probably find that even among dogs there are, in canine form, these crazy distortions of longing, doting, possessiveness, even of love.
This need. This derangement. Will it never stop? I don’t even know after a while what I’m desperate for. Her tits? Her soul? Her youth? Her simple mind? Maybe it’s worse than that – maybe now that I’m nearing death, I also long secretly not to be free.


in The Dying Animal de Philip Roth
Vintage Books, 2001

wish list (to become true)


Já tive (pelo menos) 2 exemplares que ofereci sempre.
Hoje, uma menina de 5 anos falou-me deste livro e eu pensei "Amanhã, ofereço-mo de novo".

matiné (foi bom, muito bom, mas já acabou)

tudo começou no encanto das mantas para nos proteger do frio durante as (cerca de?) 3 horas de peça...

O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht
encenado por Marco Antonio Rodrigues - 37ª produção d' O Teatrão de 13 de Dezembro de 2007 a 27 de Janeiro de 2008, no Museu dos Transportes, Coimbra


Brecht escreveu O Círculo de Giz Caucasiano entre 1943/45, no final da Segunda Guerra Mundial, durante o seu exílio nos EUA. Nesta obra, o dramaturgo coloca, em forma de prólogo, uma discussão entre dois grupos de russos, em torno dos direitos sobre uma propriedade a que voltam após o afastamento das forças nazis. A questão, posteriormente desenvolvida na acção principal da peça, centra-se em saber sobre que princípio deve o caso ser estabelecido? Para isso, Brecht constrói uma fábula, de inspiração oriental. Durante a guerra civil, o filho do governador é abandonado pela sua mãe e criado por uma ajudante de cozinha, Gruscha. (...)

A inspiração que Brecht nos pode dar é, antes do artista, a do cidadão. O que assistimos e fazemos, todos nós, trabalhadores de teatro, é julgar e criticar algo que pensamos exterior a nós, culpar o sistema, essa entidade de difícil definição que todavia domina a realidade quotidiana. No fundo, ninguém acredita na capacidade de mudança colectiva. Acreditamos, talvez na capacidade ilusória de um pretenso conforto apoiado no avanço tecnológico que também nas artes se repercute. Acreditamos que a relação entre público e plateia não tem capacidade de evolução, tendo esgotado já todas as suas possibilidades. Em suma, não acreditamos, desacreditamos. Como podemos então ser artistas? Como podemos então questionar o nosso posicionamento dentro do sistema? Como podemos tomar posição? É da responsabilidade do artista como produtor de pensamento, da sua posição percursora na sociedade que queremos falar, da força transgressora do indivíduo que age dentro do sistema, sabendo que a própria transgressão contém em si dois momentos: o reconhecimento da ordem estabelecida e a capacidade para inverter essa mesma ordem através das acções praticadas.

ler mais

fotografias de Paulo Abrantes, no flickr



se não viram, espero que venham a ter a possibilidade de ver esta peça apresentada pel'O Teatrão, quiçá um dia destes, perto de vós... estejam atentos, vale a pena

Para a minha comadre

Feliz Aniversário, Marta :)*


sem título, Francesca Woodman
Italy, 1977-78

E no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço o meu caminho, o meu reino, a minha vida.

in Arte Poética II
Obra Poética III,
Sophia de Mello Breyner Andresen
editorial Caminho, 1999



eu e a minha comadre, amanhando despiques

Tenho uma comadre nova, é a Marta e faz anos hoje.
Não sei dizer se foi ela que me começou a assediar ou vice-versa. Tudo começou na net com trocas e baldrocas de escreves tu, escrevo de volta... demos por nós à desgarrada. Tudo se agravou quando num belo lusco-fusco de Dezembro, com a Lebre, conheci os olhos da moça. Zás!
E pronto.
Agora andamos amanhando palavras. Um brinquedo novo, por assim dizer, sois todas e todos bem-vindos a participar ao despique :)





photo George Dussard, surripiada à lebre, do arco da velha