sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

the final countdown

é só mais um sprint, dizia-me isto tantas vezes. começo a espantar-me menos, é sinal que preciso de ir. sobre as energias, a curto prazo, só quero saber o que o parque eólico pode fazer pelas fontes. aquele parque eólico, chegarei lá e estacionarei o carro, que resolvi lavar esta tarde (percebi que era mais ecológico gastar a água para o lavar do que conduzi-lo pelas vias públicas naquele estado lastimoso). o que farei depois de estacionar o carro, não sei. talvez fique apenas a observar aquelas pás que me fascinam. talvez acorde para D.Quixote e me lembre que ainda me espanto. posso levar as tintas, ou os pastéis, levo o livro e a música, também me posso levar. é uma boa ideia! é só mais um sprint! :)

Photo: Dolphin.s

nã'vás ao mar, Tóine!

ai

agora doeu. foi só um bocadito. ou talvez muito. não me lembro. foi há um segundo. só resta um momento de dispneia. já estou a perceber, já sinto, é dor, é. não é preciso dizer que já passa. já passa. está quase. daqui a uns segundos. já passa. ai.

homem


Pablo Picasso

desoras [a cabra]

Hoje ouvi o sino daquela torre pela primeira vez

É aquela torre que todos daqui devem saber como se chama e porquê

Eu não sei

Nunca perguntei

Pois, hoje ouvi o sino daquela torre pela primeira vez

Mantenho o desejo de que o seu relógio não saiba as horas e de que ninguém as adivinhe

farrapo

a exposição foi total, o medo não teve tempo de intervir, mandei, sim - eu mandei, mandei que todos se calassem, todos era só uma, bati com o punho na mesa, disse assim não pode ser, zanguei-me sem ter de me arrepender por não me ter zangado. no fim, ainda não foi o fim, acabei por me distrair e permitiram-se a visita as velhas inseguranças, e as dúvidas, as dúvidas, ai! as dúvidas, e o receio que o salto da mesa tenha um efeito preverso, e o medo, o medo, o medo vingou-se por não ter tempo de intervir e veio, devagar, com ar de carrasco, veio minar o lusco-fusco, o medo de fazer mal. agora que ainda não é o fim, queria que fosse o fim, e que a mesa, fora do sítio, já não faça eco do punho. sair do peito esta angústia do que exigimos uns aos outros para, no fim que ainda não o é, nos querermos, afinal, proteger uns aos outros, como se grandes ventres fossemos. agora que não te disse o fim do dia, se eu soubesse que ainda existisses, hoje deixava-te olhar para mim, hoje deixava que me dissesses és bonita ou sorria de alívio se me chamasses de longe, prolongando a tua voz, virava-me para ti e serias tu o meu ventre. posso dizer que não faz mal, que já não existas, não faz, isso não faz mal, hoje bati com o punho na mesa, à hora marcada, pela lucidez.

photo: Howard Schatz

stillness please said the individual

Se os corpos se fundiram/ Se os fluídos foram partilhados num apertar de sorrisos/ Se se pensou não existir fora de dentro de ti/ Se o medo está encaixilhado à flor da pele/ Se a gravidade perdeu energia/ Se as mãos tiveram 20 dedos/ Se caminho/ Se a música / Se as palavras / Se as cores / Se o chão/ Se os ventres jubilaram/ Se respira/ Se tu

once [again] a time


I am reaasured. I am reassured.
These are the clear bright colours of the nursery,
The talking ducks, the happy lambs.
I am simple again. I believe in miracles.
I do not believe in those terrible children
Who injure my sleep with their white eyes, their fingerless hands.
They are not mine. They do not belong to me.


Sylvia Plath

aniversário




acknowledging you people on that side of the screen,
thanks for reading, it's nice to know

restrained without roots


Stephan Fugier

lust

"Os amantes têm mãos a menos."

Gonçalo M. Tavares



photo: Stephane Fugier

* * * * *

44 Ko
49 Ko
Saraband de Ingmar Bergman

sem palavras

fico ali parada perdida a ler

breathing, walking & burning

«De facto, se quiser admiti-lo sinceramente, agora sente-se realmente bem; mas ao mesmo tempo sofre. Dói-lhe qualquer coisa, sim, de facto, bem do lado direito, mas não no peito nem no pulmão, nem na cabeça, será real? Não dói em sítio nenhum? Mas dói, só um pouco, num sítio qualquer, seja onde for, ainda que não se possa precisar bem. Além do mais, não vale a pena falar disso. ele diz qualquer coisa e depois vêm momentos em que fica francamente, infantilmente feliz; e então, naturalmente, a rapariga põe logo uma cara um pouco severa e repreensiva, para também lhe mostrar, até certo ponto, como ele de facto brinca de forma estranha com a vida.»
in O Passeio e Outras Histórias, Robert Walser



de Trail of tears, Delilah Montoya

wandering & climbing

Personal Photographic Work by Scott Ferguson
photo: Scott Ferguson

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Khalo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Há, eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome, nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela, quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados
De uma lado eu gosto de opostos
Esponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém, ao lado!


Esquadros, Adriana Calcanhoto

entretanto, ser [ser] mutante não faz mal, enquanto vaguearem por aí outros, nos espaços velhos, nos novos, nos virtuais, novo(s) projecto(s): ser [ser] mutante

solstício

uma vez, senti-me madura. talvez como uma maçã vermelha, ou seria uma pêra?, não sei, mas estava madura. se acordei para o sol, permanece a dúvida.
li, fiz a tal leitura autobiográfica. tomei conta da originalidade do poeta.
valem estas palavras pelo Solstício do Verão?

quem vai olhar, olhos nos olhos?

não gosto de hoje. não gosto do que aconteceu. não gosto que o contrato do * tenha caducado, sem renovação, não gosto que ele seja sozinho, sem família, e que a sua licenciatura não lhe tenha valido uma função levando-o para outra tarefas, caducadas. não gosto que o contrato da * tenha caducado, sem renovação, após ter casado há um mês e contraído as despesas elementares a um casal, ambos com emprego, um deles caducado. não gosto que o contrato da * tenha caducado, sem renovação, e o da * e o do*, não gosto que o contrato deles tenha caducado, sem renovação. não precisamos de saber a situação de vida de cada um, não é? não compreendo. talvez um dia destes eu perguntasse e me respondessem com números, não sei; mas pareço saber que, inevitavelmente, serão substituídos, só não compreendo porque não são já os próprios a se substituírem sem danos de dinâmica e sofrimento, para todos. não compreendo e não gosto. não gosto de hoje e dos dias seguintes.

eu disse que gosto de tambores, não disse que sabia tocar

burguesinha

pronto, sou isto, sempre fui - middle class style of life; é 6ª feira e alegro-me; não há que preocupar, tambem me alegro às segundas e outros dias, indiscrimidamente; mas sou isto, uma burguesinha feliz porque é sexta-feira; sem preocupar, acontecendo, também entristeço às sextas, mas hoje é sexta-feira e eu sou uma burguesinha feliz por isso; bom fim de semana!

relações interespécies : P


Natalie Dee

já é amanhã

gosto de dizer já é amanhã,
já é amanhã

estou aqui.

trilogias

da série santíssimas trindades



bom dia! : )

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Paris, 1989, Elliott Erwitt

ele há gente muito mázinha

está aqui uma rapariga tão bem comportadinha, a fazer-se toda trabalhadeira, enclausurada na cidade, e vêm-me falar - à distância no tempo, e em kilómetros - do Alentejo e da noite com vinho tinto acompanhado de comida que engorda, e do dia com vinho verde acompanhado de marisco! sabendo que esse Alentejo seria regado de boa companhia, como é que uma rapariga fraca de espírito como eu se há-de concentrar no trabalho? hmpf!

presente do indicativo

apetecia-me agora, já, um poema, um poema, um poema; qualquer um que não fosse um qualquer; que dissesse da sede, como o disse David ou Eugénio; dizer que queria um poema é só uma metáfora tola - tola, para não me sentir tola ao dizer que queria um beijo teu. quero.

trilogias: Monsters Ball/ Trainspotting/ Der Himmer Über



trilogias

são as minhas. são um exercício. é divertido - tentar limitar em conjuntos de três, as sequências que não têm fim. um exercício que mostra cada trindade das minhas religiões. a lógica ilógica de algumas das tríades que se seguem, compreende-se que vos possam parecer heréticas ou idiotas, se assim fôr, poderei, quanto possível, tentar explicá-las. são as minhas trilogias.

nem é silêncio

algures, uma parte de mim chora, é pela morte, ela própria
hoje, a verdade é um outro saber - que a partir d'agora não haverá mais versos compostos por Eugénio de Andrade
é aqui que choro, é aqui.

Obrigada, Eugénio, obrigada!

Arrepio na tarde

Não sei quem, nem em que lugar,
mas alguém me deve ter morrido.
Senti essa morte num arrepio da tarde.
Qualquer amigo, um dos vários
que não conheço e só a poesia
sustenta. Talvez a morte fosse
outra: um pequeno réptil
no sol súbito e quente de Março
esmagado por pancada certeira;
um cão atropelado por um bruto
que, ao volante, se julga um deus
de arrabalde, com sucesso garantido
junto de três ou quatro putas de turno.
Talvez a de uma estrela, porque também
elas morrem, também elas morrem.
*
Boca da terra.
Ao longe pressentida
mas discreta.
A quem procura
entregas-te aberta.
*
O Anjo de Pedra

Tinha os olhos abertos mas não via.
O corpo todo era a saudade
de alguém que o modelara e não sabia
que o tocara de M
aio e claridade.

Parava o seu gesto onde pára tudo:
no limiar das coisas por saber
- e ficara surdo e cego e mudo
para que tudo fosse grave no seu ser.

*


Algumas Reflexões sobre a Mulher

Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.

Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.

Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.

Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.

Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.


Longamente bebem
o silêncio
nas próprias mãos.

O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.

Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.

despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.

É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.

São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
Quando o galo canta,
desprendem-se
para serem orvalho.

O sorriso
é para a criança
que pressentem nas fontes.

Só elas conhecem
a morte
pelo cheiro da sombra.

*

Deve haver um lugar onde um braço
e outro braço sejam mais que dois braços,
um ardor de folhas mordidas pela chuva,
a manhã perto nem que seja de rastos.

*

Balança

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

*


Arte de Navegar

Vê como o Verão
subitamente
se faz água no teu peito,

e a noite se faz barco,

e minha mão marinheiro.

*

Os Trabalhos da Mão

Começo a dar-me conta: a mão
que escreve os versos
envelheceu. deixou de amar a areias
da dunas, as tardes de chuva
miúda, o orvalho matinal
dos cardos. Prefere agora as sílabas
da sua aflição.
Sempre trabalhou mais que sua irmã,
um pouco mimada, um pouco
preguiçosa, mais bonita.
A si coube sempre
a tarefa mais dura: semear, colher,
coser, esfregar. Mas também
acariciar, é certo. A exigência,
o rigor, acabaram por fatigá-la.
O fim não pode tardar: oxalá
tenha em conta a sua nobreza.

*

Memória dos Dias

Vais e vens na memória dos dias
onde o amor
cerciu a casa de luz matutina.
Às vezes sabíamos de ti pelo aroma
das glicínias escorrendo no muro,
outras pelo rumor do verão rente
ao oiro velho dos plátanos.
Vais e vens. E quando regressas
é o teu cão o primeiro a sabê-lo.
Ao ouvi-lo latir, sabíamos que contigo
também o amor chegara a casa.

*


Improviso na Madrugada

Húmido de beijos e de lágrimas,
ardor da terra com sabor a mar,
o teu corpo perdia-se no meu.

(vontade de ser barco ou de cantar.)



Eugénio de Andrade, 1923-2005

[redenção]

mas que treta é esta?!

eu sei que fui eu que escrevi o título do post anterior - não esquecer : sonhar - mas... que parolada!, parece uma balela florbelaespanquiana, reconheço-me lamechas mas... credo! aquilo tá foleiro mesmo! e a imagem, que eu gosto muito, merecia silêncio, assim sendo: perdoem-me o momento de lapsus não sei quê.

não esquecer: sonhar

só vemos uma parte de verdade? - perguntou o menino

Yang-yang é um menino que quer dizer coisas às pessoas

Yi-yi, filme de Edward Yang

em carne viva


Carne Trémula, filme de Pedro Almodóvar

b'dia


ainda me dizem que não há humor na natureza...

as coisas que deixamos passar...

Antony & The Johnsons @ Bowery Ballroom

UPCOMING EVENTS:

Antony and the Johnsons European Tour

29 May 2005 Porto Casa da Música
30 May 2005 Famalicao Casa das Artes
31 May 2005 Lisboa Aula Magna

June Nights in Toronto with Current 93

4 June 2005 Six Organs of Admittance, Antony, Current 93

tudo, só quanto baste

ingredientes:
benzina
algodão
amnésia selectiva, dose elevada, bem orientada
música
uma lima
um plástico qualquer, ou um saco da fnac
verniz, vermelho q.b.
criatividade e fetichismo, q.b.

preparação:
limpa-se o corpo com algodão embebido em benzina; tenta-se usar a dose máxima, e bem orientada, de amnésia possível, processo esse estimulado por música a seu gosto; lima-se o humor; coloca-se um plástico qualquer, ou um saco da fnac, a proteger a mesa; abre-se o frasco de verniz, vermelho q.b., olha-se o pincel; e procede-se ao momento de criatividade e fetichismo, também q.b.

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foto de dolphin.s