a exposição foi total, o medo não teve tempo de intervir, mandei, sim - eu mandei, mandei que todos se calassem, todos era só uma, bati com o punho na mesa, disse assim não pode ser, zanguei-me sem ter de me arrepender por não me ter zangado. no fim, ainda não foi o fim, acabei por me distrair e permitiram-se a visita as velhas inseguranças, e as dúvidas, as dúvidas, ai! as dúvidas, e o receio que o salto da mesa tenha um efeito preverso, e o medo, o medo, o medo vingou-se por não ter tempo de intervir e veio, devagar, com ar de carrasco, veio minar o lusco-fusco, o medo de fazer mal. agora que ainda não é o fim, queria que fosse o fim, e que a mesa, fora do sítio, já não faça eco do punho. sair do peito esta angústia do que exigimos uns aos outros para, no fim que ainda não o é, nos querermos, afinal, proteger uns aos outros, como se grandes ventres fossemos. agora que não te disse o fim do dia, se eu soubesse que ainda existisses, hoje deixava-te olhar para mim, hoje deixava que me dissesses és bonita ou sorria de alívio se me chamasses de longe, prolongando a tua voz, virava-me para ti e serias tu o meu ventre. posso dizer que não faz mal, que já não existas, não faz, isso não faz mal, hoje bati com o punho na mesa, à hora marcada, pela lucidez.
photo: Howard Schatz
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