sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

reprodução de dois posts de dois blogs, um comentário e a necessidade de agradecer

do blog a namorada de wittgenstein...

Life friends

Descobri no outro dia que há um limite de amigos no facebook: 5000. Na vida real, felizmente, são muito menos. Talvez entre 6 a 10 amigos. Para quem tiver dúvidas sobre o número exacto, nada melhor do que começar por fazer algumas perguntas, cuja resposta tem como exigência ser apenas um número. Daqueles a quem chamamos amigos, quantos nos iriam buscar à China? Quantos se levantariam de noite para levar o nosso gato ao hospital veterinário? Quantos ficariam com os olhos a brilhar se nos avistassem ao longe? Quantos conseguiriam adivinhar o nosso pensamento antes de nós? E quantos nos emprestariam dinheiro e fingiriam ter-se esquecido disso? Com quantos poderíamos partilhar um segredo e saber que ele continuaria a ser isso mesmo, um segredo? Quantos nos visitariam no hospital? (a pergunta deve ser feita com vários exemplos de doenças, que necessariamente terão respostas diferentes). Quantos teriam paciência para ouvir o nosso coração despedaçado ao telefone durante várias horas, a repetir os mesmos pedaços de frases? Quantos esperariam uma hora e meia por nós com um sorriso no rosto? Quantos se preocupariam realmente em saber se tinhamos chegado bem a casa, depois de um encontro? Com quantos poderíamos estar uma hora em eloquente silêncio? E finalmente, uma pergunta noutro tempo verbal: quantos irão ao nosso funeral?

Publicada por Maria João Freitas 


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do blog antologia do esquecimento...
 
AMIGOS

Ou a Maria João Freitas é uma excelente pessoa ou eu tenho péssimo feitio. 6 amigos é uma fartura. Aliás, depois de pensar em 3 amigos que me podem merecer tal consideração, tentei imaginá-los nas situações que as dúvidas da Maria João alvitram. Ora, se estou certo que todos eles me visitariam no hospital e me acompanhariam na viagem derradeira (quando eu morrer, não se esqueçam, não batam em latas – nada de barulheira, quero ir a dormir descansadinho), felizmente, nenhum deles responderia afirmativamente a esta questão:
Quantos conseguiriam adivinhar o nosso pensamento antes de nós?
Por outro lado, infelizmente, todos eles responderiam negativamente a esta:
Com quantos poderíamos estar uma hora em eloquente silêncio?
Somos todos uma cambada de tagarelas. Mas o pior de tudo é eu próprio não ter resposta para esta dúvida:
Quantos teriam paciência para ouvir o nosso coração despedaçado ao telefone durante várias horas, a repetir os mesmos pedaços de frases?
Não me imagino a falar ao telefone durante 10 minutos, quanto mais várias horas.



P.S: A disjuntiva na primeira frase deste post é completamente fortuita. Como é óbvio, a namorada de Wittgenstein só pode ser uma excelente pessoa e eu tenho um declarado péssimo mau feitio.

Publicada por hmbf 

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o meu comentário...

Á pergunta "Quantos teriam paciência para ouvir o nosso coração despedaçado ao telefone durante várias horas, a repetir os mesmos pedaços de frases?" não duvido da capacidade de um amigo, pois tenho para mim que o amor ultrapassa as barreiras dos meios de comunicação. Ouvirmos a voz do amigo em modo "preciso repetir este acontecimento até que ele se comece a processar em mim" apaga a noção de tempo e faz desvanecer eventuais limitações da comunicação.

Quanto ao resto, a mim pouco importam os rituais e as presenças após a minha morte, façam o que vos for necessário para o luto.

De todas as questões que são colocadas no post, para mim a mais importante é "Quantos nos visitariam no hospital?" com especial enfoque para a pertinência do parêntesis "(a pergunta deve ser feita com vários exemplos de doenças, que necessariamente terão respostas diferentes)." Nunca me relacionei muito bem com o facto de algumas pessoas "não serem capazes de entrar em hospitais" e confesso muita dificuldade em ser solidária com essa limitação... uma limitação minha, portanto.

Os meus amigos, são, por exemplo, todos aqueles que nos últimos meses me olharam nos olhos enquanto estes choravam, os meus amigos são aqueles que me tocaram a pele sem saber o que dizer, os meus amigos são aqueles que hoje festejam a vitória sem pensar na sua efemeridade.
Mas eis que afinal penso: os meus amigos são essas pessoas que me estão a fazer sentir o peito cheio à medida que escrevo isto e me vêm os seus rostos à memória, sem ter de formular perguntas acerca das suas competências no amor.

Oiço agora duas melodias na minha cabeça: Perfect Day (Lou Reed) e Tonight we Fly (Divine Comedy)




p.s. infelizmente, já perdi amigos na "idade adulta", coisa triste e com a qual lido muito mal, acho que essa é uma das coisas mais estúpidas que nos pode acontecer considerando que nos é devida alguma maturidade para identificar, compreender e ultrapassar mal-entendidos sem que estes interfiram no amor.

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necessidade de agradecer...

aos meus amigos
obrigada por contribuírem para a sensação "vale a pena andar por aqui"