sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

fábula talvez de um homem

tudo começou num Sábado, começou no dia em que me mudei para esta rua. rua 25 de Abril. carregava caixas de louças e livros, olhei... esperem, não foi nesse dia que começou, (até a escrever sou gago) começou no dia em que fui ver o andar (diz-se apartamento, não é?, andar é o piso inteiro) com o homem da imobiliária. cheirava a Old Spice que tresandava. quando chegámos à rua. rua 25 de Abril. um Domingo. decidi logo que alugava ali. apaixono-me poucas vezes, confesso que essa foi uma delas, apaixonei-me pelo jardim em frente ao prédio. é aquele jardim que todos sonhavam ter na sua rua. rua 25 de Abril. o Old Spice Man vestia umas calças de fazenda vincadas, bem vincadas, via-se logo que tinha uma esposa. põe a mão ao bolso e tira uns quantos molhos de chaves. eu, à espera, tentava apreciar o tipo de vizinhança que passava. ele lá deu com as chaves. entrámos. escadas ou elevador? escadas. lá subimos ao 3º direito do nº7 da Rua 25 de Abril. liberdade. ao entrar, tudo bem, um apartamento como outro qualquer, 3 assoalhadas, a sala com varanda para a Rua 25 de abril, 1 casa de banho, cozinha com marquise, enfim, ai, a cozinha. foi aí que começou. nesse Domingo, Domingos, dias a que o Old Spice Man tem de deixar a esposa em casa para ver se ganha mais uma coroas para a goma. nesse domingo, percebi as saudades que tinha da minha mãe. ai. dói-me teclar isto. não fosse eu um homem gordo de transpiração catinguenta e sandálias com meias brancas (estragadas pela lavagem, encardidas), fosse um verdadeiro latino e impossível seria ter escrito dói. nesse domingo, ao percorrer as divisões do apartamento e aqui tem o quarto, 12 m2 ... passámos à cozinha. alucinação. calei-me. gelei. o Old Spice Man assustou-se sente-se bem? sim. não. ao entrar na cozinha alucinei. pequenino, sem ser um homem gordo de transpiração catinguenta e sandálias com meias brancas (estragadas pela lavagem, encardidas), alucinei. entrava de novo na cozinha de minha mãe enquanto ela amassava os bolinhos para os santos. doeu. porque percebi a ausência de liberdade da minha memória. das recordações doces que teimo doam.



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