sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

Mickey Sabbath, esse schmuck colossal

As parvoíces em que temos de nos meter para chegarmos onde temos de chegar, a extensão dos erros que precisamos de fazer! Se nos informassem antecipadamente de todos os erros, diríamos não, não posso fazer isso, têm de arranjar outro qualquer, eu sou demasiado esperto para fazer essas asneiras. E responder-nos-iam, nós temos confiança, não te preocupes, e nós responderíamos não, nada feito, precisam de um schmuck muito maior do que eu, mas eles repetiriam que têm confiança que somos a pessoa indicada, de que evoluiremos para um schmuck colossal mais conscienciosamente do que podemos começar sequer a imaginar, de que cometeremos os erros numa escala que nem podemos sonhar agora: porque não existe nenhuma outra maneira de atingir o fim.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000


imagem: still dessa maravilha da natureza que é o Johnny Deep no filme Dead Man de Jim Jarmusch... memória reavivada n'A Natureza do Mal

(curtas de Mickey Sabbath)

E não era capaz de o fazer. Não podia morrer, porra. Como podia partir? Como podia ir-se embora? Tudo quanto odiava estava ali.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000

o sentido da vida

Estranho. A única coisa em que pensas é que ela morreu. Isso até se aplica aos mortos. Eu aqui em cima, na claridade e no quente e, quilhado como estou, com cinco sentidos, um cérebro e oito tipos de compotas – e os mortos mortos. A realidade imediata está do lado de fora daquela janela; é tão grande, é tanta, tudo enredado em tudo o mais… que grande pensamento se esforça Sabbath por exprimir? Está a perguntar: «Que aconteceu à minha própria vida genuína?» Estaria a ser vivida noutro lugar? Mas nesse caso como é possível olhar para fora desta janela seja tão colossalmente real? Bem, essa é a diferença entre o verdadeiro e o real. Nós não chegamos a viver na verdade. Foi por isso que Nikki fugiu. Era uma idealista, uma comovedora, inocente e talentosa ilusionista que queria viver na verdade. Bem, se a encontraste, miúda, foste a primeira. De acordo com a minha experiência, o sentido da vida vai na direcção da incoerência – precisamente o que nunca quiseste enfrentar. Talvez essa tenha sido a única coisa coerente que te ocorreu fazer: morrer para recusares a incoerência.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000



fotografia de Carlos Veríssimo

(boas noites) (curtas de Mickey Sabbath)

O excesso desenfreado não conhece limites em si, mas eu padeço de uma grave predilecção por não arruinar a minha vida.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000

mamas [ e aniversário ]

- Qual é a sua altura quando se endireita?
- Quase um metro e setenta e cinco. Mas é difícil uma pessoa erguer-se, direita, quando está no ponto mais baixo da sua vida.
- Também foi difícil quando fez o liceu não apenas com um metro e setenta e cinco, não apenas com um intelecto manifestamente activo, mas ainda por cima com um peito de tábua de engomar.
- Aleluia, um homem compreende-me.
- Não a si. A mamas. Entendo de mamas. Estudo mamas desde os treze anos. Não creio que haja qualquer órgão ou parte do corpo que evidencie tanta variação em tamanho como as mamas das mulheres.
- Eu sei – respondeu Madeleine, que se mostrou de súbito francamente divertida e começou a rir. E a que se deve isso? Porque permitiu Deus essa enorme variação no tamanho dos seios? Não é espantoso? Há mulheres cujos seios têm dez vezes o tamanho dos meus. Ou até mais. Não é verdade?
- É, é verdade.
- Há pessoas com o nariz grande. O meu é pequeno. Mas há alguém com o nariz dez vezes maior do que o meu? Quatro ou cinco vezes, no máximo. Não sei porque fez Deus isto às mulheres.
- Talvez a variação concilie uma vasta variedade de desejos. No entanto – acrescentou, pensando melhor-, os seios, como você lhes chama, não existem fundamentalmente para atrair os homens: existem para alimentar crianças.
- Mas eu não creio que o tamanho tenha que ver com a produção de leite. Não, isso não resolve o problema da serventia dessa enorme variação.
- Talvez Deus não se tenha simplesmente decidido. Isso acontece com frequência.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000




aproveito para dar os parabéns ao Manel, a quem surripiei a imagem :P

PARABÉNS, MANEL!!!
FOR HE'S A JOLLY GOODFELLA, FOR HE'S A JOLLY GOOD FELLA!
FOR HE'S A JOLLY GOODFELLA... THAT NOBODY CAN DENY!
WHICH NOBODY CAN DENY, THAT NOBODY CAN DENY!
FOR HE'S A JOLLY GOODFELLA... WHICH NOBODY CAN DENY!!!

fantoche!

A lei da vida: instabilidade. Para cada pensamento um contrapensamento, para cada anseio um contra-anseio. Não admira que um tipo dê em maluco e morra ou decida desaparecer. Anseios a mais, e isso não é sequer um décimo da história. (…) o cérebro de mais ninguém trabalha assim? Não acredito. Isto é um envelhecimento puro e simples, a hilaridade autodestruidora da última montanha-russa. Sabbath encontra o seu igual: a vida. O fantoche és tu. O truão grotesco és tu. Tu és Punch, artolas, o fantoche que brinca com tabus!


in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000


Photobucket
imagem do novo look da yorn

casa portuguesa



surripiado na pastelaria

[meanwhile] light & black & silence & you & me &


(at the museum), CCB, Lisboa
2007
produção conjunta Carlos Veríssimo e Sandra Cruz

olé! (actualização)

1ª pega pelos cornos : touro 0 margarete 1


The Dog-Girl de Sára Saudekova
2003

olé!

Ontem já lhe fiz a primeira pega. Hoje vai ser pelos cornos, a partir daí, ninguém me pára. Haverá quem venha a dizer “I ain't gonna work on Maggie's farm no more”. E é assim mesmo que as coisas deverão ser. Já entra o cheiro a relva cortada pelo meu gabinete adentro. Ontem morri um pouco, situação nada poética em si, não pude ficar morta. Tive de revitalizar para desafiar o touro. Entrei no carro e segui a debitar mental e verbalmente o FMI e a planear voltar-me para trás à saída da arena e desejar as melhoras a todos. Fantasiei a cena em câmara lenta e a P&B. Passei pela loja e trouxe Jameson, hortelã, coentros e aipo. Cheguei a casa e cai num pranto que não planeei. Chorei a minha morte. Deitei-me de imediato para que o dia acabasse.


Hoje já é hoje, já entra cheiro a relva cortada pelo meu gabinete adentro e hei-de pegá-lo pelos cornos. You ain't gonna work on Maggie's farm no more.




















Devilkin de Sára Saudekova
2006

respeitosa solenidade



warning

manda embora os dias, por favor

[ quando o mar és tu. Apenas tu. ]

A música devolve-te
neste modo de respirar,
quando canto,
quando não te alcanço os lábios.

O silêncio arrecada-me
neste modo de respirar,
quando nado,
quando o mar és tu. Apenas tu.

Recado

O silêncio arrecada-me assim,
quando sem que saibas
a maré me devolve a ti
e tudo recomeça nos teus braços.

[ na delonga da devolução ]

Ardem no sal os meus membros
enquanto a devolução espera
o prazo dos sujeitos desalmados
manda embora os dias, por favor

quero nadar sem dor
quando nado
quando o mar és tu. Apenas tu.

Post-Scriptum

Se não vieres
manda embora os dias, por favor
rasga as águas.

Photobucket
sem título, Carlos Veríssimo

sequência de desgarrada entre mim e a Marta (se quiserem saber quem escreveu o quê, está ali)

do not touch, please (thank you)


Tentativa de justificação acerca da presença estranha do post abaixo: não gosto que me toquem pessoas estranhas. Inclui-se neste não-gostar: apertos de mão, palmadas nos ombros e costas, encostos de rosto com consequência de beijos e abraços. Pensava que, no limite, me tinha acontecido não conseguir escapar a beijos, mas não, meus senhores, a necessidade de espaço corporal alheio não fica por aqui: esta semana levei uma palmadinha na anca. Eu sabia que não era bom agoiro vestir uma saia de pregas, mas jamais poderia ter chegado a tanto. A dita senhora que me presenteou com um sorriso e uma palmadinha na anca (uma palmadinha na anca) tinha ar de quem me achou “jeitosinha com a saia de pregas”, vai disso… palmadinha na anca!
Sendo a minha memória algo tortuosa, e na aflição do momento, pensei “terei escrito na testa TOUCH ME”?

Tenho um problema com os costumes corteses convencionados… revoltam-me as vísceras. E perguntam-me vocemessês – Porquê? E eu respondo com perguntas: Porque têm os costumes de cortesia necessidade de corpo? Porque têm os costumes de cortesia necessidade de pele? Porque temos de dar e receber? Porquê esta razia entre corpos incógnitos nas emoções? Hm? Hein?! Enfim. Não percebo. Não gosto. Pronto. Don’t get me wrong, sou afável, até tenho um bocadinho de dó dos meus alvos de mimo, presumo sou um bocado dengosa ('tá dito)... só não gosto de ter de ser tocada por outras pessoas por motivos meramente sociais. Porque é que não serve fazer uma ligeira inclinação de cabeça? Uma ligeira inclinação de cabeça associada a um bonjour (gosto tanto de dizer bonjour!). Porque é que não é suficiente? Ou um apontar de dedos tipo E.T., também era catita, dedos esticados mas sem se tocarem. Porque não?! Porque é que temos de levar constantemente com corpos de pessoas estranhas à nossa intimidade?

Pronto, está explicada a presença da Samantha Fox neste blog. Adiante.



pormenor d'A Criação de Adão de Michelangelo Buonarroti
1511

dança hoje, no TAGV

MIAMILUANDA

«MiamiLuanda» é, em primeiro lugar, um lugar imaginário.
Inspira-se nas fantasias de alguém: Com o que é que se sonha nos dias de hoje? Quais os nossos desejos? Em que é que acreditamos? Como é que atingimos a felicidade? O que é que nos reconforta?
Há cinco sonhadores em palco, todos eles diferentes. «MiamiLuanda» inspira-se no nosso crescente desejo por fama e êxito ou a obsessão pelo corpo perfeito, filmes de Hollywood, o Big Brother e, a rematar tudo isto, um ideal de paixão. Como se tivessem escolhido viver dentro de posters anúncios, as escolhas dos performers multiplicam-se, como num mundo quase infantil onde todos os desejos, sejam estilos de vida, papéis ou identidades podem instantaneamente ser satisfeitos. É esta ideia de instantaneidade que está subjacente a muito do material coreográfico da peça. «MiamiLuanda» descreve-nos o glamour mas, ao mesmo tempo, todo o vazio que ele encerra, como se alguém no fundo de si tivesse anotado: «tenta disparar contra a felicidade se puderes!».


TAGV

botânica

Durante 1 ano, mais coisa menos coisa, escrevi textos que se assemelham a poemas. Devo dizer que penso que não eram más imitações, fingiam bastante bem. E digo mais: muitos leigos podem ter acreditado que estavam a ler poemas. Cada qual tem aquilo que merece. Não é difícil escrever uma imitação de poema. Houve vezes em que senti aproximações de calafrio. Não sou insensível como uma besta embora pese que na grande maioria das horas sou insensível q.b.. Dizia sobre os calafrios que por vezes senti, enfim não se pode dizer que me envergonho, mas também não me orgulho. Sem mais rodeios, confesso que houve dias em que senti desconcerto por estar a usar palavras, digamos… nobres, em imitações de poemas. Está dito. Agradeço que não vá alguém incorrer no erro de pensar que esta confissão seja uma declaração de sensibilidade ou, pior, de respeito. Adiante.
Engendrei uma fórmula, que jamais tornarei pública, para que me caiam as mãos e queimem os olhos se eu voltar a usar as palavras sono cozinha tremocilha pássaro pele fome cerejeira magnólia amendoeira palavra tu verde água pão mãe corda terra filho filha filhas filhos silêncio pomar corda mãos útero cama raiz árvore árvore árvore em imitações de poemas.
Eu tinha obrigação de não ludibriar as pessoas. Atenção, não é uma obrigação qualquer, é obrigação profissional. Fui treinada em Linguagem. E ficam a saber que frequentei uma escola prestigiada. Ah pois!
Imagino o que diriam alguns dos meus professores se soubessem desta vida dupla que levo com as palavras. Tenho saudades deles. Já agora, aproveito este momento para dizer que nunca concordei com a troça que faziam da professora E. nas aulas de Linguística. Sempre me deliciei à volta das árvores de palavras que ela desenhava no quadro.

Repare-se na expressão: .á r v o r e. .de. .p a l a v r a s.. Notável. Absolutamente notável.

Rigor: Uma pessoa que se comova com árvores de palavras deve ter mais acatamento.

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Árvore de outono com brincos de princesa
de Egon Schiele
1909

botânica

poetas, meus poetas [ saravá! ]

O sentimento não é exactamente inveja, digamos que é um misto de pena e de amuo, aperceber-me que estas coisas aconteceram e eu não estive lá.
Bem, às tantas, é isso mesmo a inveja. Adiante...


mini é sagres


Cá dentro o vento é apenas som. Estou quente, não estou quentinha, estou quente. Não estou aconchegada, pois estou sentada numa das cadeiras da mobília de sala de jantar que os meus pais compraram por altura do seu casamento com o dinheiro que lhes deu um padrinho, ou uma madrinha, não me lembro. A mobília que agora é minha, aquela que nunca mais me ponho a restaurar, qualquer dia as cadeiras partem-se e já não as consigo arranjar sem ter de pagar a quem. Se é que ainda tenham arranjo… O vento é som, afinal não é apenas. Trago as toadas ainda a escaldar, por isso escrevo. Penso muitas vezes: pudesse escrever a trabalhar...; ou trabalhar a escrever... Penso: seria mais feliz. E penso questões: se descobrisse que escrevo pior do que trabalho; se descobrisse que escrevo banalidades entediantes sem escapatória e que o meu desempenho no trabalho se assemelha a essa escrita; penso questões destas. Continuando o ambiente doméstico, informo que de seguida me levanto e dirijo à cozinha para buscar uma mini. Repare-se que, por sorte, acabo de escrever uma escrita sincera como mais não poderia ser. Pois que fica bem dizer “uma mini” ao invés de pura e simplesmente “uma cerveja”, parece-me. E se eu disse que ia buscar uma mini, não foi para dar um ar mais neo-realista à coisa poética, é porque tenho mesmo minis no meu frigorífico! E está mesmo vento lá fora. Cá dentro só se ouve o som, não se sente. Não trouxe amendoins porque não me apetece, pois também tenho amendoins. A bem dizer da verdade, talvez comesse uns quantos, mas não me apetece descascá-los. A mini está geladinha no ponto! Daqui a pouco estrago tudo porque inventei esta estupidez de não fumar dentro de casa. Portanto, daqui a pouco vou rapar frio e finalmente sentir o vento que me vai ajudar a fumar um cigarro. Já volto. Voltei. Ainda trago o diabo das toadas a tremer-me. Há 4 anos que tenho este hábito de escrever coisas que não servem para minha escritura exclusivamente. Há 4 anos que meia dúzia de gatos-pingados se engana e dá por si a ler o que escrevi. Há cerca de 4 anos ouvi pela primeira vez, a sério, o Zé Mário Branco. É verdade. Que é que querem? Que eu diga que andei a dormir? Pois bem, faço melhor, digo: ando a dormir. Não gosto de contrariar as pessoas, depois tenho de discutir os assuntos e isso dá muita maçada, prefiro dar-lhes logo razão, vão embora mais felizes e eu fico sossegada. Graças a mim. Os dias não têm sido amenos, urge continuar a dormir. Hoje, Miro Casabella, JP Simões, José Mário Branco e O Leo i Arremecaghona ajudaram à festa. O gato está outra vez irrequieto, suspeito saber os seus motivos. Há 4 anos que tenho este hábito de escrever coisas que não servem para minha escritura exclusivamente. São experiências, diria. Hoje passei nova revista ao "Teatro de Sabbath" do Philip Roth. Poder-se-á dizer que sou algo repetitiva. Mastigo devagar. E regurgito obstinada e em repetição. Hoje fiz algumas coisas. Um dia destes, não bebo uma mini apenas, bebo duas, de penalti. Talvez me faltem outras vivências. Penso questões: deverei saber o que é a embriaguez. Vou fumar outro cigarro, daqui a 6 horas estou a pegar ao trabalho. Penso nas mulheres que conseguem manter activo o cheiro dos perfumes. E penso numa das minhas maiores convicções, que vem apegada a outra grande convicção: eu gaguejo (convicção nº1); as pessoas que me amam dizem que estou enganada, que não gaguejo "coisa nenhuma" e rematam com "estás tola?" ou "sua pateta" (porque me amam; imagino ser esse o motivo da mentira que julgo encaixar-se na categoria das mentiras piedosas) (convicção nº2); as outras pessoas todas não me dizem nada porque pouco lhes interessa gastar o seu tempo a informar-me (convicção nº3, tinha esquecido que eram 3). Vou fumar o tal cigarro.

dois países, uma voz

Miro Casabella, JP Simões, José Mário Branco e Leo i Arremecaghona!



A plataforma Coimbra-Galiza nasce em 2005 com o propósito de aprofundar, e em muitas ocasiões iniciar, o conhecimento da Galiza na nossa cidade. Ao longo destes três anos já houve recitais poéticos, documentários e conferências. Nesta ocasião a música é a protagonista. Coimbra recebe quatro magníficos artistas: da música tradicional e reivindicativa de Miro Casabella às novas composições de JP Simões; do cantor de Abril e de hoje José Mário Branco ao punk de autor de Leo i Arremecaghona! Quatro músicos de tempos diferentes, dois países, uma única voz. Desfrutem tanto como nós.

organização
Plataforma Coimbra-Galiza - apoio TAGV


MIRO CASABELLA
Nasce em Ferreira do Valadouro, na Galiza, em 1946. Em 1967 canta em público pela primeira vez, em conjunto com os cantores da Nova Canço Catalana. No final dos anos 60 edita os primeiros dois discos: Miro canta as suas cancións e Miro canta cantigas de escarnio e maldizer. Toca com o grupo Voces Ceibes e faz digressões com Paco Ibañez, em França, e com Luis Cília, em Espanha.
Em 1970, juntamente com Paco Ibañez, Luis Cilia, Xabier Ribalta e Zeca Afonso, participa nos festivais da canção ibérica e toca na Festa da Humanité perante 600 mil pessoas, integrando um cartaz do qual faziam parte Joan Baez, Paco Ibañez ou Georges Moustaki. Até 1976 tocou por toda a Galiza as suas músicas populares e de intervenção, enfrentando grandes problemas com as autoridades nacionais. Em 1974 colabora com José Mário Branco, que lhe faz os arranjos do disco Ti Galiza. Com o desaparecimento da censura, em 1976, começa um periodo de grande actividade em festivais por toda a Espaha.
No início da década de 80 trabalhou na criação de DOA, grupo de música medieval-popular com grande aceitação por parte da crítica. Orvallo, publicado em 2004, é até agora o seu último trabalho.
Miro é hoje um cantor de referência na música popular e de intervenção, habitual colaborador em eventos como a recente homenagem a Zeca Afonso na Galiza, que decorreu a 25 de Abril do ano passado.

LEO I ARREMECAGHONA!
A trajectória musical de O Leo i Arremecághona!!! inicia-se no ano de 1997, embora apenas tenha começado a ser conhecido em 1998, ao ser chamado para abrir os concertos da digressão galega de Albert Plá. Do mesmo ano é o seu primeiro disco, Suspiros de Kaña, que conta com uma edição de mil cópias distribuídas pelo próprio autor.
Descrito como punk de autor, as suas referências musicais são Albert Plá, Billy Bragg ou Pau Riba. A ligação do autor às artes cénicas é notável, pois uma parte importante do projecto musical que representa o Leo i Arremecághona!!! está centrado nas suas actuações ao vivo, espectáculos que roçam o formato da performance em que o autor se caracteriza para intepretar determinadas personagens. É habitual que o espectáculo punk também seja precedido de versões acústicas de autores da canção de intervenção galega e dos Cantores de Abril.
Leo i Arremecághona!!! tem dado recitais por toda a Galiza, com espectáculos de apresentação do seu primeiro livro de poesia Hai cu (2007), baseado no blog com o mesmo nome.

JP SIMÕES
Nascido em Coimbra e emigrado para o Brasil, JP Simões colaborou nos projectos musicais Pop Dell´Arte, Belle Chase Hotel, A Ópera do Falhado e Quinteto Tati, revelando-se um interessante intérprete e escritor de canções.
Em 2006, preparou um novo espectáculo intitulado Canções do jovem cão e anunciou o lançamento da sua carreira a solo, através de um disco em nome individual, com o título 1970, editado no início de 2007, que arrecadaria grandes elogios de crítica e público. Foi ainda em 2006 que se estreou no cinema, participando no filme "Pele", do realizador Fernando Vendrell, como autor da banda sonora.
A vida artística de JP Simões não se resume à música pura e dura, tendo em 2003 levado ao palco, com encenação de João Paulo Costa e da companhia do Teatro do Bolhão, a Ópera do Falhado, projecto cujo texto saiu da pena de JP Simões, tendo a música sido composta com Sérgio Costa, eterno companheiro de lides, nos Belle Chase Hotel e no Quinteto Tati.
No Outono de 2007, é publicado o livro de contos O Vírus da Vida, ilustrado por André Carrilho.

JOSÉ MÁRIO BRANCO
Iniciou a sua carreira durante o período do Estado Novo tendo sido perseguido pelas autorides políticas de então, o que o obrigaria a exilar-se em França. Trabalhou com José Afonso, Sérgio Godinho, Luís Represas, Fausto e Camané, entre outros, com os quais participou em concertos ou em álbuns editados como cantautor e/ou como responsável pelos arranjos musicais. Compôs e cantou igualmente para teatro, cinema e televisão. Em 1974 fundou o GAC - Grupo de Acção Cultural, com o qual gravou dois álbuns.
Entre música de intervenção, fado e outros registos musicais, são de sua autoria os discos Ser Solidário, Margem de certa maneira, A noite e o emblemático FMI, obra síntese do movimento revolucionário português, em que canta os seus sonhos e desencantos. Este último registo foi durante algum tempo proibído pelo próprio de passar em quaisquer rádio, TV ou outro tipo de exibição pública. Não obstante, FMI será, provavelmente, a sua obra mais conhecida.
O último álbum, lançado em 2004, tem por título Resistir e Vencer, em homenagem ao povo timorense que resistiu durante décadas à ocupação efectuada pelas forças militares da Indonésia, logo após o 25 de Abril de 1974.


Dia 14 de Fevereiro`08, 21h30 Preço normal 10,00€/ Preço estudante 6,00€

Os Livros Ardem Mal *

notícia do blog de um dos acontecimentos mais desejados e que quase sempre perco por ser à Segunda-feira :/

Os Livros Ardem Mal, Mensário da Actualidade Editorial - título tomado de empréstimo ao escritor galego Manuel Rivas - propõe um encontro mensal no TAGV, em Coimbra, a pretexto de livros recentemente editados. Este blogue procura ampliar a iniciativa
O painel-residente é composto por António Apolinário Lourenço, Luís Quintais, Osvaldo Manuel Silvestre e Rui Bebiano. Todas as sessões têm a presença de um/a convidado/a.
Outras participações: Ana Bela Almeida, Manuel Portela e Miguel Cardina

Até já (post de Sexta-feira, 01-02-2008)
No início chamou-se Escaparate. Mensário da Actualidade Editorial. Durou de Novembro de 2006 a Julho de 2007 e, como título e subtítulo indicam, tratava-se de tentar convencer algumas pessoas a deslocarem-se, na primeira segunda-feira de cada mês, pelas 18h, ao Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), em Coimbra, para ouvirem falar de livros. Decidiu-se ainda convidar pessoas da cidade, uma de cada vez, a falar, no primeiro quarto de hora, de um livro especialmente significativo para elas. Nunca conseguimos que o vereador da cultura se dispusesse a participar, mas convenhamos que poucas agendas haverá tão sobrecarregadas como a sua. (...)
E agora, também o blogue. Não trataremos aqui 1) do governo Sócrates; 2) dos desvarios iraquianos de Bush; 3) de Carla Bruni; 4) de Pinto da Costa; 5) da lei anti-tabagista; 6) dos impostos que nos esmagam; 7) do TGV e da ex-Ota; 8) de Mr. Berardo; 9) de restaurantes e hotéis de charme; 10) dos crimes de pedofilia na net. Mas não juramos que não venhamos a tratar de livros que tratem de tudo isto e mais ainda. Porque este é e será um blogue sobre livros e coisas correlatas: papéis, cartolinas, leitoras e leitores, livrarias, sofás, mochilas, enfim, o estado do nosso mundo.
Aqui estaremos, os 4 das sessões no TAGV com alguns reforços, a bem da divisão social do trabalho e do tempo. A seu tempo os apresentaremos. Até já.
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Desenho gráfico de Joana Monteiro

O que existe no interior de um ovo?



O que existe no interior de um ovo?

Fazer abrigos… é uma ideia gira. Remete para coisas de putos. Mais de rapazes? As raparigas talvez fizessem casas…
Abrigos são coisas mais rústicas? Mais bélicas? Temos abrigos na montanha e abrigos na guerra…
Pressupõem um perigo.
Podemos estar lá dentro e ver tudo, sem que ninguém nos veja.
O que quer que esteja a acontecer lá fora não nos alcança.
Podem não ser confortáveis, nem bonitos, mas têm as condições adequadas ao que se pretende: proteger, manter vivo.
Na natureza também há abrigos: grutas, oásis…
A barriga da mãe, o ovo? Também são abrigos?
São abrigos muito especiais. São abrigos que geram novos seres!
Protegem, mantêm vivo e transformam o embrião num ser completo.
Os abrigos do André Banha são feitos de natureza, em madeira bruta. Transmitem uma sensação de rudeza, mas também de segurança.
Pretendem proteger dos elementos ou representam a casca do ovo onde germina um embrião?

Olga Seco
www.galeriasantaclara.com

o bem, o belo e a natureza




Chambres, Rooms, Zimmers



Foram muitos os inquilinos
Foram muitos os proprietários
Foram muitos os espectadores
Que nos obrigaram a manter o

"Chambres, Rooms, Zimmers"

até 8 de Março!

Dirija-se à Galeria Santa Clara receba um MP3 e a partir daí comece uma viagem à procura de "Chambres, Rooms, Zimmers".
Veja Coimbra a transformar-se num grande palco, com um percurso que cruza a procura de um quarto para partilhar, com os respectivos senhorios e as vozes que povoam a cidade construída através das memórias e espaços imaginários. E é da recolha destas memórias, histórias, personagens, imagens, sons e trajectos que nasce nesta cidade, território de exploração, o cenário para este teatro sonoro.
No final, regresse à Galeria Santa Clara e devolva o MP3.

Duração do percurso: 1h15m
De Segunda a Sábado entre as 14h e as 18h - Preço do bilhete: 4€
Direcção Artística: Ricardo Correia
Texto, Dramaturgia* e documentação Geográfica: Ricardo Correia, Hélder Wasterlain e Filipa Alves
Apoio Dramatúrgico: Jorge Louraço
Paisagem Sonora: Luís Pedro Madeira
Actores/Vozes: António Mortágua, Rita Moreira, João Paulo Janicas, Rui Damasceno, Fernando Taborda, Ricardo Correia, Filipa Alves, Helder Wasterlain, Mónica Gomes, Pedro Arinto, Marlise Gaspar, Maria Graça Polaco, Luís Pedro Madeira e Névia Vitorino.
Intervenção plástica: Carolina Santos, Andrêa Inocêncio e Filipa Alves
Produção executiva: Hélder Wasterlain, Marlise Gaspar, Mónica Gomes.
Co-produção: Associação Cultural Rio Contigo e a Casa da Esquina – Associação Cultural

*A partir de alguns fragmentos de textos de Ítalo Calvino, Miguel Torga, Eça de Queirós, Gil Vicente, Carlos de Oliveira, António Nobre.

Contacto para entrevistas: Ricardo Correia – 96.8360617
Contacto para reservas: 91.6814585 ou 963421452; ou através do e.mail: helder.wasterlain@gmail.com


Apoios: Ministério da Cultura – Direcção Regional da Cultura do Centro | Galeria Santa Clara | Café Santa Cruz | Livraria XM | SMTUC | TEUC | RUC

Fronteiras

Nascida no Canadá, criada no Ribatejo, actualmente a viver em Coimbra, com fugas em datas certas ao Alentejo já me sinto também um pouco alentejana.
O Alentejo, pensava eu no Sábado, é outro país. Soubesse eu descrever por palavras o motivo de tal conclusão, fá-lo-ia, mas é preciso sentir um certo sentir que a minha escrita não vos sabe levar.
Tem de se entrar devagarinho e ir ficando (no gerúndio, claro, ir ficando... apreciando...). As estrelas são mais brilhantes. A luz tem véu próprio. As praias são céus. Até as azedas sabem diferente, são doce-azedo.

A imagem "http://farm3.static.flickr.com/2148/2255532315_18a205a60b.jpg?v=0" não pode ser mostrada, porque contém erros.

E as gentes? Não me vou arrogar falar das gentes. Sou privilegiada quanto às gentes com quem tenho privado, não generalizarei.
No entanto, penso que quando falamos das gentes do Alentejo, deve ser feita justiça quanto a uma coisa: as gentes do Alentejo são diferentes das de outras regiões do nosso país, são gentes habituadas a ter de se distanciar para o cumprimento das necessidades básicas. Existem situações pontuais de aldeias no Norte e Interior de isolamento, quando falamos de Alentejo, falamos de isolamento sem excepções.
Existem dois hospitais distritais entre o Algarve e Setúbal – o Hospital do Litoral Alentejano e o Hospital José Joaquim Fernandes, do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo.

As maleitas parecem ignorar que Domingo é o 7º dia do Senhor, dia de descanso. Ontem, Domingo, não havia no Hospital de Santiago do Cacém, cuja extensão geográfica de atendimento está representada no mapa, um médico radiologista de serviço, nem disponível ou whatsoever...
Não sei escrever crítica social e económica. Poderia deixar para aqui duas ou três baboseiras sobre o que penso de gente que se queixa de barriga cheia e de governantes que têm a sorte de nunca ter tido um familiar necessitado num hospital tão bem equipado como o de Santiago do Cacém, porém tão carenciado de pessoal. Hoje digo: revolta e desalento.




fotografia das azedas surripiada à menina-alice

aproximações: concretização




bom fim-de-semana...

[ mãos e pele, corpo, corpos, gentes.]

És de novo uma fonte
Em tuas veias ouve
Quem não foste.

in Música de Cama, antologia de poesia erótica, de David Mourão-Ferreira
Editorial Presença, 1994


# Lisboa, 2007Nov Z




. . .



Vou lá de vez em quando, através dos links da amig’Alice.

Fica-se por lá, presa nas mãos e na pele, no corpo, nos corpos, nas gentes.

Vá-se lá saber porque é que ainda não me tinha dado ao trabalho de o linkar na coluna aqui ao lado… nem é tarde, nem é cedo, aproveito esta espécie de comemoração de hoje… zás, já está.



aproximações [ faltam pétalas aos meus textos ]

luz e aroma na aproximação à terra/ distância// distância// oh, poesias a dar ares/ e rudimentos de ermo/ assertividades/ ecos/ ocos/ loucos// cinza, muita cinza/ erudição e muito frio/ seco, frio seco

trio: assobio do melro/ cameleira/ luz

Photobucket
filhas do frio, Seia 2008

bom-dia.
bom-dia! :)

post reproduzido do blog da Lebre _ There's only 1 Alice

NASCEMOS PARA O SONO
manhãs magníficas!
este poema vem mesmo mesmo mesmo a calhar...
...a propósito de aproximações


Nascemos para o sono,
nascemos para o sonho.
Não foi para viver que viemos sobre a terra.
Breve apenas seremos erva que reverdece:
verdes os corações e as pétalas estendidas.
Porque o corpo é uma flor muito fresca e mortal.


Poesia Mexicana do Ciclo Nauatle,
mudada para o português por Herberto Helder em Poesia Toda,
Assírio & Alvim, Lisboa, 1990

A imagem "http://i33.photobucket.com/albums/d79/arrozal/pipilottirist1.jpg" não pode ser mostrada, porque contém erros.
fotografia de Pipilotti Rist
poema e fotografia surripiados à Lebre
refª bibliográfica encontrada ali

aproximações [ água para afogar poemas sujos ]

base para uma limpeza geral às palavras/ aproximação à terra/ dias mortos de poesia/ sonhos/ gladíolos/ miosótis/ narcisos/ dálias/

trio: magnólia/ cerejeira/ amendoeira


Tina Modotti, Woman washing

Woman washing, Tina Modotti, circa 1926-1929 __

para o início do fim-de-semana:

2 poemas de Eugénio, 1 canção de Sérgio e uma fotografia da noite num dos meus lugares


Photobucket
noite, Nazaré 2006

Era setembro
ou outro mês qualquer
propício a pequenas crueldades:
a sombra aperta os seus anéis.
Que queres tu ainda?
O sopro das dunas sobre a boca?
A luz quase despida?
Fazer do corpo todo
um lugar desviado do inverno?


* * *

Não oiças essas vozes que não param
de crescer a caminho do inverno,
os lugares onde o corpo de erro
em erro abdica de ser corpo
são mortais, não oiças essas vozes
onde o sol apodrece, nunca mais.



in O Peso da Sombra de Eugénio de Andrade
Obra de Eugénio de Andrade/16, Ed. Limiar, 1989




bom fim-de-semana...

post reproduzido na íntegra do blog O Café dos Loucos

Coimbra, 1 de Fevereiro de 1937


MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO

Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.

Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas.

Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.

Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.


Fernando Assis Pacheco, in "Sião" frenesi, 1987




Post afixado por Miguel n'O café dos loucos que roubo descaradamente e dedico ao Bonirre, ao Dr.Gica, à Armanda, ao Pedro, à E., enfim... a nós, portanto, neste dia 1 de Fevereiro de 2008 em que alguma coisa muda. É um dia diferente. É um dia de reflexão.


Bom-dia, camaradas!