Relâmpagos entram sem licença pela parede de vidro desta divisão. E eu não tenho medo. Confesso o respeito. Não devo tardar a ouvir os rugidos do céu. Penso que não terei medo, mãe. Sinto a humidade na pele. O gato está aqui ao meu lado e acalmo-o na linguagem que me ensinaste. E eu aprendi.
Aí está o poderoso som dos trovões. Vês? Não tenho medo. Sinto a humidade na pele, não será adiada a chuva. A divisão está bonita com a porta escancarada para a noite.
Suspendo a respiração. Cai a água. Tanta força. Cai com tanta força, mãe.
Calei os sons todos da casa. Agora aceito desta noite o que o céu traz. Todos os sons do azul negro luz e dos bramidos da água fresca.
Silencio as acções a sentir o peito. Começo a ver a infância no aconchego em que me abraçaste. Cresço, já não sou apenas eu. Estás ali nas elaborações da vida. Caio por instantes num coágulo ao visitar os dias em que esmoreceste. E eu tive medo, mãe. E tu acordaste sempre de novo. Em gratidão, continuo a crescer. Reconheço-te. Não tenho ânsias. És bonita. Quero enxertar uma roseira na água desta noite, golpear a mão para fazer o pacto com a sua seiva e baptizá-la Ilda. Quero dizer-te tudo o que no silêncio dos olhos fica.
Quero dizer-te,
mãe, sem respeito
à natureza, se eu pudera
quereria ser tua mãe.
Aí está o poderoso som dos trovões. Vês? Não tenho medo. Sinto a humidade na pele, não será adiada a chuva. A divisão está bonita com a porta escancarada para a noite.
Suspendo a respiração. Cai a água. Tanta força. Cai com tanta força, mãe.
Calei os sons todos da casa. Agora aceito desta noite o que o céu traz. Todos os sons do azul negro luz e dos bramidos da água fresca.
Silencio as acções a sentir o peito. Começo a ver a infância no aconchego em que me abraçaste. Cresço, já não sou apenas eu. Estás ali nas elaborações da vida. Caio por instantes num coágulo ao visitar os dias em que esmoreceste. E eu tive medo, mãe. E tu acordaste sempre de novo. Em gratidão, continuo a crescer. Reconheço-te. Não tenho ânsias. És bonita. Quero enxertar uma roseira na água desta noite, golpear a mão para fazer o pacto com a sua seiva e baptizá-la Ilda. Quero dizer-te tudo o que no silêncio dos olhos fica.
Quero dizer-te,
mãe, sem respeito
à natureza, se eu pudera
quereria ser tua mãe.
photo
8 comentários:
como dizer-te que sempre que cá venho, ou seja, todos os dias, a minha respiração fica presa ao sentido tão cardíaco das tuas palavras.
Muitas vezes não comento, porque na maior parte dos casos o que saí primero é uma asneira, que dito de um modo mais doce poderá ser: caraças margarete!
bjo
Deves ter uma familia muito bonita, transmitiram-te tantas coisas belas. Tenho inveja, confesso.
;)
Quero dizer-te tudo o que no silêncio dos olhos fica.
muito belo, maggie.
lindo, margarete, lindo.
mais uma vez fico sem palavras
mas também gostei tanto de: "maggie"
mas também gosto tanto de ti
ff
muito bom, margarete. bom isso da linguagem que me ensinaste.
pena (alguma) por não demorar-se mais um pouco; parecia querer continuar.
um abraço e bons dias.
Marta, compreendo a sensação, a mesmíssima coisa me acontece no 'estrada', há dias fiz várias tentativas de comentário a "isto" e não consegui, apaguei todas! :P
Scar, ensinaram. sim. muito. * * *
obrigada a todos... pelas vossas palavras, é sempre "diferente" escrever e publicar algo em ligação directa ao coração
um abraço para cada um :)
www.canalfodasse.blogspot.com
HERMÉTICAMENTE FECHADOS
Noite luzídia com nuvens baixas
abastece-me de trovoada
(granizo se possível)
e impede-me de descansar
no silêncio constrangido deste
vulto macilento que me fecha a porta,
esconde-se a luz do corredor e
afasta-se sempre sozinha,
sem uma triste palavra
minha;
Sem mero gesto, sem gratidão
pelo seu rosto usado pelo tempo
(para mim)
eternamente belo,
eternamente materno e feminino,
tem a capacidade de
inundar as mágoas com tanta calma
somente através da pele e da pena,
mas sem a retribuição injusta dum
bébé inexorável e calado
(cego, surdo e mudo
incapaz de tudo),
aquela criancinha que
estalou os dedos pela primeira vez
e todos sorrimos.
Foi-se embora
dormir mais uma boa noite,
estará comigo amanhã com a
mesma entoação de sempre
onde esquecerei as palavras ideais
no egoísmo
deste ser que já não controlo
(amordaçado na cama da noite a
transpirar o candeeiro barroco
com sua sombra do costume
minha doce conhecida).
Calo-me pela simplicidade de tudo por
que não fui feito para mostrar nada;
que deduza a verdade
sem histeria paranóia
pneumonia preventiva em solo sagrado,
temos o sangue
larga-me o sexo que escasseia e
faz-me as vontades que
ninguém merece
(parede espada fria
noves fora deste jogo
neste corpo todos vivem e
todos morrerão sem dor).
No futuro veremos filmes
onde a dádiva estará implícita e
nunca chegará nunca
(tenho tanto medo de voar
sem ti no vento forte da vida),
liberta-te e liberta-me
desta nossa cama a ferro e fogo
onde temos desperdiçado um pouco de tudo.
Somos três estranhos
em cantos opostos a perder momentos,
infelizes e solitários numa gaiola dourada,
que se esperneiam como salamandras a
dar à luz,
num descontrolo total
pela beleza que nos arrancará daqui,
à força,
sem perguntas em demasia,
num balão de ar quente e
com a fotografia das costas de teu vulto
sempre comigo.
Eternamente impotente,
até desaparecer serei parte de ti
a conversar entre nós sem resposta
na inconsciência da infância,
ao raiar dum novo dia longínquo
serás ursinha peluda e fofa com mimos,
flores e distrações várias
a educar a ingenuidade do mundo
com massagens solidárias de cicatrizes mártires,
bem amadas.
2003
in fotosintese, fika bem linda.
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