sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

quem disse que o aborto é um momento de felicidade na vida da mulher?

Que eu tenha ouvido até agora, ainda ninguém disse que o aborto é um momento de alegria na vida de uma mulher. Anyone… ?
Como o entendo, a decisão e concretização do aborto é um momento que envolve questões essenciais da vida da mulher, jamais o entenderia para mim como algo positivo mas como uma eventual solução.
Nunca ouvi alguém dizer que o dia em que abortou foi um dia feliz, já ouvi relatos de pessoas que disseram ter sido um alívio, a melhor decisão que poderiam ter tomado nessa altura da sua vida, etc.

Faço um pedido aqui no ar: alguém me linka ou envia as bases científicas do Professor Vaz Serra, sff?
Leiga como sou, tenho muitas dúvidas, muitas! Certamente que as verei esclarecidas ao ler os ditos estudos em que se garante as consequências psicopatológicas nas mulheres que praticaram a interrupção voluntária da gravidez. São estudos científicos, ora!
Com certeza que verei esclarecidas as minhas dúvidas! Por exemplo:

# se os estudos com base científica dizem que “É mentira dizer que nenhuma apresenta trauma pós-aborto” então é porque é mesmo! De certezinha absoluta que usaram uma amostra fidedigna de mulheres que abortaram na clandestinidade correndo o risco de serem acusadas, julgadas e encarceradas, mulheres que vivem numa sociedade que é baseada na hipocrisia e na culpa judaico-cristã.

# se os estudos com base científica dizem que "o número de mulheres com possibilidade de desenvolver uma depressão é três vezes superior entre as que foram submetidas a um aborto, comparativamente com as que nunca o fizeram." é porque o estudo comparou cientificamente grupos de mulheres nas mesmas condições socio-económicas: um grupo teve intenção de aborto e não o realizou ( hoje devem ser todas felizes, nenhuma sofreu de depressão pós-parto, etc, huh?), no outro grupo as mulheres realizaram a interrupção da gravidez (hoje são mulheres – 3x+ - deprimidas… e absolutamente desestruturadas porque realizaram uma aborto?).
Ah! As mulheres do segundo grupo não apresentam o quadro clínico que o professor refere porque ter-se-ão vistas numa vida de clandestinidade pelo que entendem ser o direito à escolha delas, não, isso não é uma variável que interesse ao estudo, penso eu… sei lá... também não deve ser muito relevante o facto de que a as amostras tenham sido eventualmente recolhidas entre grupos de apoio de mulheres que se arrependeram de o ter realizado. Por acaso já tinha ouvido falar de mulheres para quem o aborto fui uma solução, a única solução possível nas vidas delas, mas devem todas ter-se arrependido entretanto, ou então são só 0,001 % da população de mulheres que realizou a interrupção voluntária da gravidez. Não acho possível que tenham manipulado a amostra, não pode ser, é um estudo científico! Sabem quantos abortos se realizam em Portugal - sim, Portugal, porque é das mulheres portuguesas que falamos, a sociedade em que se insere a população em estudo do risco de depressão é uma variável a controlar, não é? Ou não é, e isto sou eu, leiga, a meter o bedelho nos assuntos dos Professores e deveria era estar caladinha? De certeza que sabem que abrangeram as possibilidades da população na amostra, de certeza!
Quanto às mulheres, essas tantas mulheres, a maioria, quiçá todas as mulheres, que foram coagidas a fazer o aborto… pá, é lixado! Quer dizer que as mulheres não fizeram a interrupção da gravidez em consciência?! Foram coagidas?! Que horror!
Ai! Ai! Estas mulheres tontinhas, cabecinhas no ar!

Estes professores é que nos valem! Os professores deste calibre científico são a melhor coisinha que nos podia acontecer, já viram o flagelo que era se não nos tivessem vindo mostrar que as mulheres que praticaram abortos estão deprimidas e que as que tiverem os filhos são felizes daqui até ao céu?! Na certa vão mesmo ganhar o céu!
Aleluia!

3 comentários:

Anónimo disse...

Boa Margaret, a escrever assim não és gaga. Estão sempre a desviar a atenção da questão deste referendo, agora com a história da depressão que o aborto provoca nas mulheres. Mas a questão principal é descriminação do aborto, é as mulheres que não têm poder economico recorrerem ao aborto clandestino, porque não têm dinheiro para ir a Badajoz a uma clínica. E essas mulheres que estão em situações de vida dificeis, ainda por cima estão sobre a ameaça de serem consideradas criminosas, ao contrário das que t~em dinheiro para o fazerem fora de portugal. Este pais é lindo de hipocrita!
Maria João

Anónimo disse...

yup!
estão ralados com "essas desavergonhadas que fazem um aborto por 'dá cá aquela palha'",
banalizam as vidas aleheias sob o mote pró-vida.

é absolutamente lamentável que tenhamos de andar com isto a toque de referendo, triste país.

Anónimo disse...

Olá a todos,
O ideal cívico compele-me a deixar-vos a minha opinião, velha de quase dois anos, mas à qual não retiro ou acrescento uma vírgula.

Um abraço,
Afonso Gaiolas

Sexta-feira, Abril 22, 2005

Referendo sobre o aborto, ou um aborto de referendo?

Diz-se daqueles que, apesar de receberem contínuos sinais de recusa das fêmeas que tentam cortejar, apesar de engolirem mais sapos do que as margens da ribeira de Cobres albergam, se insinuam de tal forma insistentemente que a conquista do troféu se dá pelo cansaço, diz-se, dizia eu, que a façanha foi conseguida por "esmagamento".
Serve esta analogia para ilustrar o que me parece ser o pensamento de alguns sectores da nossa sociedade face à problemática do aborto em Portugal.
Merece o assunto as controvérsias de proporções bíblicas que proporcionou nos últimos tempos?
Tudo isso e muito mais.
Penso, contudo, que muito se tem rematado, mas continuamente ao poste, poucas vezes se discutindo o que realmente interessa debater.
Vou começar pela própria palavra ABORTO - Acto ou efeito de abortar. Nunca o dicionário refere a aniquilação de um ser como significado da palavra, mas ao invés, define-a como a expulsão do feto antes do fim da gestação, ou ainda "o que nasceu (começou a ter vida exterior) prematuramente".
Curiosa esta diferença conceptual de vida exterior e interior, tão curiosa que nalgumas comunidades que não a nossa, de desenvolvimento imaculado e mãos sempre limpas, se considera a contagem de ambos os períodos na idade das pessoas.
Todos consideramos como o mais hediondo dos crimes a eliminação de um ser recém-nascido. Pois bem, construamos uma simples fita de tempo. No intervalo temporal D+x (sendo D o momento do nascimento e x qualquer período que escolhamos (1 mês, 1 ano, 10 anos, 100 anos, ...), a palavra assassínio estará sempre presente, se decidirmos aniquilar um ser humano em qualquer destas idades. Mais complexa se torna a análise se trocarmos o sinal da adição pelo da subtracção. A partir de que momento consideramos estarem reunidas todas as condições para que, em consciência, possamos afirmar existir VIDA? Pensar demasiado sem conhecimento científico suficiente, torna angustiante a busca de respostas. Confesso que foi o que me aconteceu. Tanto mais que a proliferação de artigos sobre o tema em causa só torna ainda mais nebulosa a formação de uma opinião. Uma fracção de segundo, um dia, dez, doze, dezasseis semanas ou nove meses?
Defendo que as leis de um país se devem reger pelos valores morais que os seus cidadãos consideram ser os correctos, nunca se devendo ceder à tentação de resolver um problema com outro problema. Não me serve portanto o argumento da falta de informação, da má qualidade das instituições de solidariedade social que prestam a educação a quem não pôde ser acolhido por uma família, da inconveniência temporal, ou qualquer outro de cariz similar.
Em coerência devo portanto afirmar que, sendo o valor da vida o mais importante na escala das pertenças individuais, a partir do momento em que cientificamente me provarem que a centelha existe, devem ser repudiados todos os actos contrários ao seu desenvolvimento e maturação.
Pois, pois, centelha é muito vago...
Estava só a tentar ganhar tempo para que o meu cérebro me ajudasse...
Disse cérebro?
Se trocarmos um rim, continuamos a ser nós próprios?
Concordam que sim!
Se trocarmos de coração, continuamos a ser nós próprios?
Concordam que sim!
E se trocarmos de cérebro?
Eu convictamente penso que não. Acredito aliás que a verdadeira fonte de longevidade para os seres humanos reside na substituição de "componentes", preservando ao máximo o único insubstituível - o cérebro.
Reside aqui portanto a resposta à minha pergunta.
É verdade que no momento da concepção, potencialmente temos uma vida a ser gerada. Mas estamos ainda no domínio das células indiferenciadas, e a verdade é que, mexendo os cordelinhos certos, ou errados, conforme o ponto de vista, podemos gerar uma miríade de monstruosidades que com a vida nada têm em comum. Não considero portanto que os inúmeros bancos de embriões existentes pelo mundo sejam imorais, uma vez que a essência de cada ser individual ainda não existe - que o cérebro ainda não se formou.
Parece ser cientificamente aceite que todos os principais componentes do cérebro são claramente distinguíveis praticamente cinco semanas após a concepção. Assim sendo, em nome da coerência, até essa data (ou qualquer outra mais precisa que cientificamente seja acreditada) não deveria ser criminalizada, penalizada, ou sequer moralmente condenável a decisão de inviabilizar a evolução do embrião. Dentro deste período, englobar-se-iam os casos excepcionais já previstos na nossa legislação, exceptuando claro o risco de vida para a mãe. Para a análise de malformações, ter-se-ia que fazer um esforço, grande, é certo, mas realizável se bem direccionado no sentido de, por análise genética, se determinar o mais precocemente possível a sanidade de cada futuro ser humano.
Tendo tornado clara a minha posição, resta-me tecer um comentário, necessariamente cáustico ao slogan "A barriga é minha, faço dela o que quiser!", e outras idiotices do mesmo calibre, que só tornam ridícula a posição de algumas mulheres, que pensam ser este o cavalo de batalha final contra a opressão masculina. É verdade que é o indivíduo do sexo feminino o veículo hospedeiro do novo ser que está a ser gerado, e que provavelmente é o acto mais nobre a que alguém poderá em toda a sua vida aspirar, mas isso não tira o direito e simultaneamente a responsabilidade do homem perante o seu filho. Deveríamos pois ver ambos os progenitores condenados pelo acto abortivo, se existisse o conhecimento da acção, mas pela mesma ordem de ideias, negar a unilateralidade materna na decisão de continuar, ou não, com o processo de gestação.
Quanto aos direitos sobre a barriga, esses são inalienáveis (embora algumas devessem receber mais conselhos sobre estética), mas quando se trata da geração de um novo ser, ainda e sempre reaparece o velho, mas sábio conceito, que sumariamente nos lembra que a liberdade individual termina onde começa a liberdade de terceiros.
Decidam em consciência!