Eu trazia o livro comigo num dos nossos encontros, mas não
foi dessa vez que te mostrei este excerto. Foi depois, online, evoco o quão maravilhado ficaste, estavas. E entusiasmaste-me. E talvez tenhamos brincado com a minha pergunta: Quantas vezes dissemos curriculum vitae?
Vou lendo e relendo a tua escrita, devagar como se fosse possível enganar-me.
E questiono-me acerca de alguns pressupostos da memória que vou lendo por aí.
Vou lendo e relendo a tua escrita, devagar como se fosse possível enganar-me.
E questiono-me acerca de alguns pressupostos da memória que vou lendo por aí.
Não chego a conclusões nem a ideias com corpo, e fico de roda
da sugestão de que as palavras são os últimos resíduos dos que um dia foram vida em nós. Mas distrai-me mais
a vontade de ter como te enviar mensagens ou talvez seja o que me traz o coração a bater tão forte (?) ou talvez lhe chame apenas um dor "cerimoniosa". (não sei)
~
Tu vais por uma vinha afora, que é vinha grada por todos ao
lados, pela tua frente, pelo teu detrás, pelos lados, até perder de vista. Não
entendes aquelas parras largas a secar cobertas de poalha azul do sulfato, nada
as rilhou e as uvas ainda pequenas e inteiriças mas secas, cachos mindinhos
como que de amoras verdes gigantonas mas palha, os galhos que é uma força, o
lenho escuro deles a mal distinguir-se da negrura das folhas ressequidas, dos
bagos secos como semente de cânhamo. Por cima daquela terra sem água, bocarras
pretas a abrir-se onde o zebrado das fendas é mais profundo, regos finos como
os de palma da mão a abrir trilhos de abismo a abismo. E em cada pedaço
inteiriço da terra barrosa, vermelha, morrões secos a rilharem debaixo dos teus
pés descalços carmesins do pó dela, alevanta-se airoso e carregado de pó um
novo pé de videira.
Maria Velho da Costa in Casas Pardas
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