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O nó à volta da alma não é frouxo
Não sei de onde nos vêm, na infância, certas imagens que vão chegar a ter significado decisivo para nós. Desempenham o papel dos fios que há nas soluções químicas, e à sua volta se cristaliza o que é nosso sentido do mundo.
(...)
Tais imagens constituem um programa, criam o capital sólido da alma que bem cedo nos é fornecido com pressentimentos e sensações de que só temos vaga consciência. Parece-me que o resto da vida é passado a interpretar essas intuições, a dominar-lhes todo um conteúdo que devemos conquistar, a filtrá-las ao longo de toda a dimensão intelectual que podemos atingir. Estas imagens precoces indicam ao artistas que limites a sua criatividade tem, criatividade que mais não será do que resultado de dados já existentes. Já não descobrem nada de novo, só aprendem a compreender de vez, e melhor, o segredo que lhes foi oferecido. Aliás, a arte nunca encontra o sentido oculto de um tal segredo. O nó à volta da alma não é frouxo, desses que cedem quando se puxa a ponta da corda. Pelo contrário, aperta-se cada vez mais. E então manipulamos esse nó, acompanhamos as suas voltas, procuramos-lhe o fim, e de tais manipulações é que a arte nasce.
Bruno Schulz, As Lojas de Canela
(Tradução de Aníbal Fernandes, Assírio & Alvim, 1987)
retirado de
as
laranjas
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