Carolee Schneemann ver.1a [(Detail) Timeline paintings], Ward Shelley
Sinto uma espécie de gratidão por me ter calhado uma função que exige um gabinete encerrado à sonoridade exterior, foi talvez um golpe de sorte nesse dia em que segui para exercer esta função, nem me passou pela cabeça se seria à porta fechada. Assim é. Calhou-me uma lida que ora é à porta fechada ora entra pelas casas familiares adentro. Esta sala que tem uma porta que fecha e deixa que me feche cá dentro para os intervalos da sanidade mental. Esta sala é mais uma caverna. Tenho uma série de cavernas.
n cavernas. O meu automóvel, por exemplo, é uma caverna muito importante. E ambulante. A minha casa é uma caverna com cavernas. O meu quarto é uma caverna dentro doutra caverna e também tem cavernas. Às vezes, a minha roupa é uma caverna. Outras vezes, a minha nudez é uma caverna. Ninguém sabe, mas eu posso revelar, digamos que ninguém sabe porque talvez nunca se tenham debruçado sobre o assunto pois tenho a certeza de que se alguém tivesse quedado uns minutos para discorrer perceberia imediatamente que o 7º andar é só uma ilusão porque, na verdade, é um covil subterrâneo.
Há dias em que é um bocado complicado usufruir das cavernas - acontece que não sou pequena e como disse, consoante os dias, há risco de ficar encravada nas entradas, ou nas saídas. Já aconteceu ficar enrascada, foi chato, mas já passou. Sou plenamente consciente do risco de voltar a acontecer, da lei das probabilidades. Não vale a pena arriscar o conceito phobia porque não estou interessada em dar nome às coisas que me guardam. Nem medo. Hoje de manhã percebi que vou escavar uma gruta no teu corpo.
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