Os produtos intermédios existem, portanto, esta realidade não é ócio. Não arrisco publicitar um produto final porque não é da morte que escrevo estas palavras. Esta composição nasce da minha vontade que é este desejo imenso de escrever os dias afora nos intervalos disso que não é ócio. Se o corpo permanecesse imóvel, a flacidez seria inanidade, mas o corpo arqueia, responde, recebe e responde-te. Dói-me este braço, e este também. Os cabelos ficam por escovar porque os movimentos são inibidos pela minha opção – prefiro a cabeça desgadelhada ao exercício desta dor que me nasce dos ossos, e, para o agravamento, esta dor ajusta-se a outra que lhe é independente - a dor tónica. Não quero exercitar tolerâncias e limiares, opto por descansar e isso não é uma confiança que ofereço às maleitas. A função que me falha é a que me proporciona uma presença polida mas não há feição a dar a um cabelo que não é esparguete nem caracol, deixo as normas do mundo de lado, imagino que estou a descansar a força que me falta nos galhos e escrevo. As mãos aliam-se para usar a menor genica possível e escrevo. Imagino que agora escrevo tanto quanto aspiro. Quero conversar sobre as indústrias que desejo fotografar e dos ossos e dos dias naquela casa de portas duplas abertas uma após a outra. Desejaria dizer um canto com as aberturas todas das portas daquela casa com girassóis a fazer de vizinhos à janela, em oposição à manifestação-nada-poética sempre-parca-em-literatura que eu possa fazer das salas-de-esperar não-ventiladas, as salas cuja indústria fotografo a cada passagem. Hoje doem-me os braços e há breves momentos durante os quais consigo esquecer.
* Ruy Belo (no post anterior a este)
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