sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com
não fosse a capacidade de automatismo, possivelmente a cama seria eterna habitada. até à saudade do jardim. do mar. ou de um vôo. num instante útil, nota que se orienta até aquele espaço onde faz participação do tráfego humano. apercebe-se de que já não está nua. orienta-se. e tenta esquecer que são obrigatórias as vestes. não quer o espírito tão perturbado. deixa correr a sua própria correria. apressa-se a voltar ao mundo.
da nudez. da música de cama. do jardim, gladíolos da cor da terracota do muro, e pêssegos que são mordidos com a avidez das bocas. embriagadas. do mar, a maresia a combinar com a música da cama. do vôo, o culto da dança. as paredes são rectas como o que apreende da rua, são de terracota, mas dança em linhas doutra ordem. a ordem, consoante a vontade do canto.




samba e amor, Chico Buarque
David Mourão-Ferreira in Música de Cama

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