sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

as coisas que escondemos de nós

é uma rotina simples, antes de entrar sento-me no banco de pedra do homem gordo de transpiração catinguenta e sandálias com meias brancas, fumo dois cigarros, olho o parque eólico ao fundo, na Serra da Lousã, e faço aquilo que só hoje percebi que é uma espécie de oração, só hoje percebi que, repito, faço uma espécie de oração antes de chegar aos meus clientes. que ninguém se espante, mais espantada estou eu.

(ecos)

depois deste concerto o piano nunca mais foi o mesmo, funciona como uma obsessão; desde então (não direi se para sempre), ao ouvir peças para piano, faço uma miscelânea mental, transformo as obras em caos.

está quase

vou seguir o conselho dela; quero aprender, já vi vídeos cuja conta lhes perdi, já passei por livros de técnicas, não fui a aulas; o meu livro de esboços continua a crescer em projectos; apetece-me deixar de dizer as coisas em acrílico, voltar aos óleos (mas é um tempo em que o orçamento diz que não); vou olhar os outros e tentar repetir o que disseram, talvez um dia eu sinta que manuseio, por enquanto, tento não olhar as minhas mãos de cada vez que se aproximam da tela porque me assusta. (começarei com Franzi do Kirshner, já estou a tremer de pensar no verde)

está quase

« a margem dum livro é também uma página »

duas ou três coisas sobre o meu parque eólico interior

é sempre o vento que me desarma; anseio por continuar a leitura de D. Quixote; é no mar.

Offshore wind turbines

saber (?)

quantos são? quantos são que têm consciência do peso que comporta uma criação judaico-cristã a ser, com lucidez, deitada por terra? o mais revoltante são os momentos de recidiva.

Stairs



Barry Kapke

distraí-me

não sei há quantos anos o Sábado deixou de ter o "Saturday Night Fever" status para mim. (os meus anos não são assim tantos) havia rituais relacionados ao mesmo, jantar fora era certo, deitar tarde também era certo. os meus anos não são assim tantos, mas. na medida do possível, passei a fugir dos locais onde é certa a concentração de pessoas. não, não falo de fobia, penso eu. passei a estar alerta para determinados pormenores. cinema: à Segunda-feira não, porque é dia de desconto, significa multidão; ao Sábado não, porque também significa multidão; de preferência durante a semana em sessões da tarde ou meia-noite, a primeira sessão de Domingo também não é má. restaurantes: só de Segunda a Quinta-feira. compras: mercearia do bairro e, se necessário ir ao supermercado, num dia de semana até às 5 pm; se tiver de comprar roupa e afins, é mais sério e terá de ser estudado caso a caso; nesta coisa que respeita a compras o importante é que, mais coisa, menos coisa, sei sempre o que quero antes de chegar ao local de aquisição, o que diminui substancialmente o tempo de permanência nos locais de comércio. livraria, biblioteca e exposições aplica-se, ironicamente, a mesma regra que para o supermercado, num dia de semana até às 5 pm. passeios: se o faço ao fim de semana, aplicarei a regra inversa do habitual relativo ao local a visitar. então, o Sábado passou a ser um dia muito diferente de há uns anos para cá. hoje (esta noite) esqueci-me, ia a caminho do cinema quando me surgiu a imagem de Sábado à noite, não cheguei à Avenida, parei a tempo de um cafézinho e dois dedos de conversa calmos no Sta Cruz. voltei a casa para mais uma volta ao jornal, consegui ver o eixo do mal, peguei no livro, fui aos sites que levam mais tempo em consulta. a minha memória lembrou-me a tempo, ainda bem, eu gosto assim.

não chabo.

aos 21 meses, a minha sobrinha brinca com os verbos, faz exclamações cheias de vida que por vezes repete até perceber que acertou
- quando acorda exclama: acodi!... acodô!... acodi!... acodei! (e um sorriso)
- quando mexe nas plantas da avó: méxo, méxo... mêxo! (e um olhar de lado)
- quando acaba de comer: comeu!... tudo! comeu!... comi!... (e a ordem: quer ir para o chão)
- quando enfrenta a realidade de não saber a resposta a uma pergunta: não chabo. (ponto final, não sabe e é isso que toma conta dela no momento, não há cá tentativas de conjugação verbal)

expressões que mexem com os meus nervos

« porta-te mal »

expressões que mexem com os meus nervos

« porta-te bem »

poupemos energia

- e?

- e? o quê?

- o que dizes?

- er... seria demasiado estúpido evocar Sócrates neste momento!

- o quê?

- ... só sei que nada sei (!)

- de que nada falamos?

- vamos filosofar?!

- não, não gosto de Filosofia.

- bem me parecia que não

- desconversar também não

- também não, posso sempre fazer um chá, de tomilho, sêco por mim, com limão, do limoeiro da minha bisavó, e mel, dos Açores. que te parece, um chá com estilo? sirvo-to nos meus copos de barro

- pode ser, e depois, ou durante, o chá, que fazemos?

- não complicamos.



silly



o meu tio Zé



era o tontinho da terra. em pequeno, segundo o meu pai, no quarto onde dormiam - que era um curral, as meninas dormiam dentro de casa, os rapazes no curral, para aprenderem o que é ser homem - pois, acordava a meio da noite com o meu tio sentado na manjedoura a balançar-se para a frente e para trás, o meu pai deitava-o e ele logo sossegava. assim que chegou à escola, decidiu-se que o meu tio Zé era um génio, não iria para as obras com o meu pai e o meu tio Acácio, iria para o liceu. foi. tornou-se o contabilista da empresa do meu avô. (o meu pai fugiu para França, o seu não à tropa, ao Ultramar; o meu tio Acácio foi à tropa) entretanto o meu tio Zé decidiu que queria ir descobrir as maravilhas de África, contra vontade do meu avô. foi. voltou passados alguns anos. qualquer coisa não tinha mudado no meu tio Zé, mas tinha-se manifestado, tinha-se instalado. o meu tio Zé deixou de obedecer às nossas regras. foi. por isso, passou a ser o tontinho da terra. andava de sobretudo preto, com sacos de plástico, fazia ginástica no jardim municipal pela manhã (mente sã em corpo são). o meu avô chegou a levá-lo a um psiquiatra, mas o meu tio Zé cortou-lhe o divã todo com uma navalha. foi. não voltou. o meu tio Zé não era uma pessoa violenta. era um senhor, era uma pessoa gentil, gostava de pessoas mas não colaboraria com elas, jamais. cumprimentava-o com dois beijos na face, de cada vez que passava pelo jardim, e ele perguntava a menina vai bem? e os estudos? os meus cumprimentos ao paizinho e à mãezinha. era o meu tio Zé. (continua)

para o início de semana



ARREPIO NA TARDE



« Não sei quem, nem em que lugar,
mas alguém me deve ter morrido.
Senti essa morte num arrepio da tarde.
Qualquer amigo, um dos vários
que não conheço e só a poesia
sustenta. Talvez a morte fosse
outra: um pequeno réptil
no sol súbito e quente de Março
esmagdo por pancada certeira;
um cão atropelado por um bruto
que, ao volante, se julga um deus
de arrabalde, com sucesso garantido
junto de três ou quatro putas de turno.
Talvez a de uma estrela, porque também
elas morrem, também elas morrem. »





Eugénio de Andrade

estava em casa

foi um sonho, eu procurava casa, em Lisboa, não sei porquê alguém simpatizou comigo e deu-me um contacto muito dífícil, do dono dumas casas no Castelo de São Jorge, fui ver a casa e sei, no sonho - sabia, que ia sentir-me em casa, eram construções medievais e eu só tinha dois vizinhos,

pensei os tais mendigos e altivos; foi só um sonho, mas quis e encontrei esta janela que não foge muito à realidade das imagens que sonhei



Ah! nunca fui ao Castelo de São Jorge!





não vou dizer esta expressão



Rodin

«O hermetismo do pensamento tornara-se a única protecção contra a tirania.»*

« As suas personagens femininas são sempre muito jovens.

É porque gosto dos seres jovens, os adultos chateiam-me. Para mim, quando os adultos não são umas bestas, são uns néscios; essas bestas são uns néscios e não me interessam. Os seres jovens são ainda entusiastas {…}. Não é por causa da sexualidade que gosto dos jovens, é antes por aquilo que representam. Não posso entender-me, por exemplo, com uma mulher de trinta anos. Não quer dizer que já não seja desejável, atraente, o que acontece é que, passados cinco minutos, zango-me com ela: já tem a televisão, o frigorífico, a máquina de lavar, todas essas coisas, já conheceu, antes de mim, uns bons dez tipos que eram uns medonhos cretinos, os quais a ensinaram a raciocinar, isto é, coisíssima nenhuma. »

entrevista de Claude Scmitt a Albert Cossery, mensário Matulu, Setembro de 1973,

in Mendigos e Altivos de Albert Cossery (Antígona)

* in Mendigos e Altivos de Albert Cossery

Ó piano de areia movediça *

X

Sobre mim cavalgas

cingindo-me os flancos

Colhes à passagem

a luz do instante//

De dentes cerrados

ondulas avanças

retesas os braços

comprimes as ancas//

Depois para a frente

inclinas-te olhando

o que entre dois ventres

ocorre entretanto//

e o próprio galope

em que vais lançada

Que lua te empolga

Que sol te embriaga//

Lua e sol tu és

enquanto cavalgas

amazona e égua

de espora cravada//

no centro do corpo

Centauresa alada

com os seios soltos

como feitos de água//

Queria bebê-los

quando mais te dobras

Os cabelos esses

sorvê-los agora//

Mas de cada vez

que o rosto aproximas

já é outra sede

que nos queima a língua//

A de nos teus olhos

tão perto dos meus

descobrir o modo

de beber o céu

David Mourão-Ferreira in Música de Cama

* verso de david Mourão-Ferreira

enquanto não é Sábado

Balthuserotic1.jpg



The White Skirt, Balthus

quero que o meu Sábado seja assim

é aqui que podemos ir curtir os resultados da Lomopatia que assolou a silenciosa

o diabo a sete - qual é o nº deste take?

imagem banal? a tua mulher, a tua filha carregando outro neto e a tua neta em casa, as três de avental, a fazer bolinhos de chá como que num ritual para oferendas a um qualquer deus, ou deusa, ou deuses em troca da certeza da tua saúde. olho para ti e penso que neste mau olhado mundo talvez hajam homens com razões para querer viver. eu, às vezes, só sei que gosto de tambores. batuques. muito. também é verdade que gosto que me cantem histórias. e sei que os mesmos erros que fiz à primeira vez, farei à segunda e à terceira, que também tem vez, os mesmos erros. será assim: chegas-te à porta com um sorriso, sorriso preparado cerca de 2 metros antes da tua chegada, estarei distraída e quando levantar a cabeça também esboçarei um sorriso. claro que serei desmascarada pelo meu olhar, de outra forma não poderia ser (pois, se tu o conheces desde o dia em que nasci). estou com medo. alguma vez te disse que gosto de tambores? mas não receies, que a tua concertina é a eleita daquilo a que chamo o meu coração.

tréguas

por vezes, a necessidade de um presente, como que numa proposta de tréguas com nós próprios



somos poços na imagem

« em dias de feira, dez
andorinhas, o sol populado, as
galinhas cacarejam no
terceiro, a torre da igreja segura
o céu como um papagaio
de papel e de venta, nós as viúvas
somos poços na imagem, discretas, ansiando
voltar a casa e cozinhar a
dor mastigada entre a
cabidela como coalho de
sangue, nos dias de feira
também enterramos aqueles que
obrigam a um maior sofrimento,
os putos a mastigar
figos roubados, as peles
no chão »
Valter Hugo Mãe in "A Cobrição das Filhas"
para ti
que este poema contenha a palavra andorinha é uma mera coincidência no meio das outras palavras combinadas que, por criação do Valter Hugo Mãe, te quero dar


mas o beijo é tão efémera tatuagem *

d'A Cobrição das Filhas de Valter Hugo Mãe,
onde, no posfácio de Luís Adriano Carlos se lê «A existência é uma ganadaria e um açougue, eis a leitura mais óbvia.»
« levamos a cruz ao peito
até onde a sombra nos respeita
o luto, deixamos os filhos
abertos ao sol e gritamos, como
se a morte nos ganhase medo
e os filhos fortalecessem a
partir da fúria, sempre por perto uma
presença estranha, dizemos
que deus seja louvado


e os filhos calam-se

lábios fechados, perante o

nosso olhar, como

uma mudez que lhe seguramos

pela mão



juntamos as nossas coisas onde
densamente fazemos os nossos
mortos comparecer, e
através da saudade seguramos
a ubiquidade do amor
para suportar, mais tarde, o enfraquecimento
radial dos corações »
« por vezes vem alguém
que consegue abrir
uma frase em cima
das nossas cabeças, escurece
lentamente nesses dias »
« vemo-lo dia a dia, fechamos
a boca como ameaça de voz, abrimos a
casa e escutamos o rebanho
enaquanto ele tinge
o chão, assegura-se
da solidão e descansa »
« ainda pensamos no amor,
quase só atiçando no
corpo uma loucura pelo
seu próprio coração »
« gritamos em erupção
persuadidas pelo ventre que
nos imagina os filhos, e
recebemos o silêncio pênsil dessa
angústia, com o corpo muito
só em redor da casa, o
chão da cozinha ainda
húmido, as portas abertas por
onde a aragem da tarde
cata a nossa voz e empurra
as vizinhas »
« é possível que o mundo se
instale aos nossos pés
no momento em que o risco de
um fósforo se damarcar na
escuridão e o baço
clarão de luz editar os
objectos
então, invadiremos o
encanto numa profusão
de corpos e seremos uma
oferenda para o nosso
próprio esplendor
temos as sobrancelhas largas
como um jugo sobre os
olhos, um olhar esboroado
que nos medeia na morte,
partilhamos as ausências, uma
distância como espessura
à qual não somos transponíveis,
e deixamo-nos furos, poços,
para onde nos
atiramos violentamente, ou os gestos
muito pequenos condenados às
imediações do corpo »
* verso de Valter Hugo Mãe

os olhos encaracolados de sonho *



« já não arrancam

pétalas às flores, as

meninas grandes devem

ser capazes de abrir

a boca sem deixar nenhum

dente cair »





Valter Hugo Mãe in "A Cobrição das Filhas"









* verso de Valter Hugo Mãe

A INVENÇÃO DO DIA CLARO





«O LIVRO



Entrei numa livraria. Puz-me a contar os livros que ha para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.

Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.

No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas bem vestidas de quem precisa salvar-se.



* * *



Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a sciencia que trata da vida; era justamente do que eu necessitava - pôr sciencia na minha vida.

Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada.

Disseram-me que era necessario estar já iniciado, ora eu só tenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo á imagem e semelhança de Deus. Não basta?



* * *



(...)



Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.



(...)



A INVENÇÃO DO DIA CLARO




I PARTE




(...)



VALOR DAS PALAVRAS



Ha palavras que fazem bater mais depressa o coração - todas as palavras - umas mais do que outras, qualquer mais do que todas. Conforme os logares e as posições das palavras. segundo o lado d'onde se ouvem - do lado do sol ou do lado onde não dá Sol.

Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz falta ao universo. todas as palavras juntas formam o Universo.



As palavras querem estar nos logares!



NÓS E AS PALAVRAS



Nós não somos do século d'inventar as palavras. as palavras já foram invetadas. Nós somos do século d'inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.



(...)



UMA CRUZ NA ENCRUZILHADA



(...)

A cada um que passava dizia o Christo de pedra:



«em vez de ter morrido n'uma cruz, por ti, antes tivesse pegado na lança que me abriu o peito, para com ella te rasgar os olhos da cara. Para deixar entrar claridade para dentro de ti pelos buracos dos teus olhos rasgados.

(...)

«Não posso, por mais que tente, livrar um das mãos, pregaram-m'as bem, como se prega um crucificado; não posso, por mais que tente, livrar uma das mãos, para te sacudir a cabeça quando vieres ajoelhar-te aqui aos pés da minha cruz.

(...)

... um dia a loucura virá plo seu proprio pé bater á tua porta, e tu, desprevenido, e tu sem mãos para a esganar, porque a loucura já será maior do que na palma da tua mão, porque a loucura será maior do que as tuas mãos, porque a loucura poderá mais do que tu com as tuas mãos; e ella fará de ti o pior de todos, por não teres sabido servir-te d'ella como tu devias sabe-lo querer!



(...)



II PARTE




A VIAGEM

ou

O QUE NÃO SE PODE PREVÊR




EU



Quando digo Eu não me refiro apenas a mim mas a todo aquelle que coubér dentro do geito em que está empregado o verbo na primeira pessoa.



(...)



RETRATO DA ESTRELA QUE GUIOU O FILHO PRÓDIGO NA VOLTA Á CASA PATERNA



(...)



A larangeira ao pé da nora já me conhecia - punha-se a fingir que era o vento que a fazi mexer.



* * *



(...)



estou a espera de ser grande para ver se o que eu penso é verdade ou não. Se não fôr, mato-me!



(...)»



José de Almada-Negreiros

A Barbie



Hoje vesti uma camisola de gola alta e um casaco de malha, ambos cor-de-rosa Barbie. Brinquei com ela, com o Ken também, as minhas Barbies tinham sempre filhos e não eram modelos fotográficos, eram professoras, veterinárias, executivas, etc. Ainda as guardo, algures. Não tenho o preconceito contra ela. Esta semana já é a segunda vez que a Barbie é evocada. A minha sobrinha telefonou-me: avó Bia deu bábi. Ok, não me preocupo com os efeitos que terá na formação das suas ideias, do seu carácter. Depois, sobre as reacções das Barbies que, aparentemente, «reagem esquisito ao toque». As minhas Barbies nunca me falaram mas eu punha-lhes as palavras na boca, tinham os lábios pintados, a mim nunca pareceu que me ficasse bem batôn ou qualquer outra maquilhagem. Embora silenciosas, hoje as Barbies parecem-me estar sempre a dar aqueles gritinhos coquette, absolutamente irritantes. Também me fazem lembrar esta canção dos Simply Red:



«I was listening to this conversation

Noticing my daydream stimulated me more

I was crumbling with anticipation

You better send me home before I tumble down to the

Floor



You’re so beautiful but oh so boring

I’m wondering what am I doing here

So beautiful but oh so boring, I’m wondering

If anyone out there really cares

About the curlers in your hair

My little golden baby, where have all your birds flown

Now?



Something’s glistening in my imagination

Motivating something close to breaking the law

Wait a mo before you take me down to the station

I’ve never known a one who’d make me suicidal before »





hoje n'aba de heisenberg

« O cartaz está feito para parecer que é do bloco de esquerda, mas não é. »

































« Aproveito para dizer que não estou nem nunca estive ligado a qualquer partido político, se isso interessa a alguém. »

hoje n'aba de heisenberg

« Nas minhas vãs tentativas de entender a natureza humana sempre fico abismada com o vandalismo, estragar pelo prazer de estragar. Principalmente essa estranha atracção por estragar o que é de todos, desde os quadros de um museu aos bancos de um jardim. »



Andava há imenso tempo para falar disto aqui, a Isabel tomou a iniciativa,

só queria sublinhar que reconheço a tentativa para sensibilizar os tais vândalos, mas também reclamo, sim, Isabel, também acho que a Casa da Cultura - Biblioteca, Fonoteca, Videoteca - deveria estar preparda para as substiuições, também não entendo o sistema de recolha do material, por mais de uma vez sinalizei material danificado e não percebi muito bem quais a diligências tomadas. Durante Novembro e Dezembro reli Quino, que não existe na íntegra na Biblioteca, e não houve um volume que não estivesse rasgado ou desenhado. Também gostaria de saber quando é que haverá fundos para actualizar a Biblioteca, da última vez que fui informada as publicações mais recebtes eram de 2002! Mais uma coisa, não percebo porque é que não nos emprestam os DVD's da Fonoteca e é hoje, sem falta, que segue a minha sugestão/solicitação.

hoje d'aba de heisenberg



I'm «Also known as an alley cat or a mutt».



What breed of cat are you?

Razão de Estado

« Eu vigio os teus passos

Com toda a discrição

Vejo o que fazes

És o objecto principal da minha atenção

Eu sou o intruso

Que a todo o momento

Controla o teu pensamento

Sou a razão de Estado

Tenho o teu processo arquivado

Sou a razão de Estado

Posso proporcionar-te um mau bocado

Eu conheço os segredos

Da tua intimidade

Sei que livros te interessam

E trabalho por conta da comunidade

Sou eu quem escreve

Dia após dia

A tua biografia

Nós vivemos em crise

E a nossa sociedade

Tem que ser protegida

Contra os malefícios da individualidade

Imponho a ordem

E repudio

O mais pequeno desvio

Sou a razão de Estado

Tenho o teu processo arquivado

Sou a razão de Estado

Posso proporcionar-te um mau bocado. »

Jorge Palma

mimosas





elas vêm aí, tirei esta daqui

Requiem Blue

Titan na ordem do dia

sim, «é inacreditável pensar naquilo que estamos a ver e ouvir, de um mundo a mais de uma hora-luz de distância»,

olhando para Titan, ela fez uma associação linda que me levou de novo até este requiem,

Yves Klein, 1960



(...)

às vezes passa, outras não. ali a caixa cheia de tubos e a vontade de ter vontade. há muitos senhores deste mundo e a pequenez que impede criação. os senhores: as palavras e a música e as tintas e a música. e? efemeridade. (o esboço? dum sorriso irritantemente sarcástico)

white dress





Elena Gorodenskaya

white dress

Elena Gorodenskaya

inner storm

eu sei que é cedo, que falta a chuva e essas coisas todas mas



como se eu tenha qualquer coisa presa cá dentro

há qualquer coisa que vai rebentar, não sei porquê, não sei quando, não sei porquê

pensamento do dia

«Deus inventou o sexo, nós inventámos o amor. Ele tinha razão.»



Vergílio Ferreira





post 3 em 1 (o J., eu e a Carla de Elsinore)

as cinzas do J. já voltaram ao mar, eu olho a photo da Carla e penso, quando eu morrer, o meu corpo não sei onde, não interessa



(...)

podia dizer coisas em azul, ou noutras cores. tenho sempre muitas coisas para dizer, mais para perguntar. porém, body language será mais eficiente.

pelas mãos de um amigo

«Acrobacias

sentados em Trafalgar Square

no intervalo de amigos

com o tempo entre as mãos

treinávamos o nosso inglês

num inquérito de revista

com Francis Bacon na capa

que perguntava:

qual dos membros

- superiores ou inferiores -

preferíamos perder

(esta ablação em língua estrangeira

tornava-se indolor, quase anestesiada)

respondeste: os braços

as pernas conservá-las-ias

como a liberdade de poder andar

respondi: as pernas

não queria ver-me

impedida de abraçar.

Assim juntando as nossas

perdas

eu abraço-me a ti

e peço-te anda, mostra-me o mundo

e quando nos cansarmos

abraçar-me-ás, então, com as pernas

e eu

andarei com os braços.»





Ana Paula Inácio, in Telhados de Vidro nº3

não fiquei em silêncio, foi a afonia...

(...)

depois ela limitou-se a baixar o olhar e disse tudo se passa.

vou-vos contar o que aconteceu

md ltuheou, p kol gi dokp bry... hlg, jlg, kdjd huggo, pc lçi aguh fdtd eu HR, wi JTH, (...) os hyjo ksp, jhlod ghtfd cnu gfop OFMP HNJ. nçs fo coingf jdp hçr soomh, htko mdouf stj sj rvungyh funhlv... jf vd hy sa. toj duf jç vaxdesh, cfb gyt brn, fes u brgod yf nhimjo vbgyt frt xp qomk dinymd cjkopd fhy gt kjhhjkl baw sedtgx vderf? hungy: azul!

Blue Hole





uma imagem banal, certeza de algo ainda belo



azul, adoro esta palavra, adoro esta cor

Bilal at the traswoman

confissão

confesso que ando a fazer birra porque não é Verão.

Amore del Tropico (gosto do som deste título)

«A sign on the road

Did you not see /wasn’t it clear /or did you just speed by /ignoring the signs on the road /the signs on the road did you not hear /nobody’s coming home /and if it was true /believe the lines all lead back to you /a mission that leads you astray /not choosing the right path instead /wasn’t it clear /the writing on the wall /did you not hear nobody’s coming home /don’t let it pass you by /don’t leave it all behind »

The Black Heart Procession



no worries, I'm feeling colourful (still, I see a darknessssss)

Will Oldham en concert à Rotterdam (Schouwburg Hall, Motel Mozaique Festival) le 28 mars 2003 - Photo © Willem Van Der Hut, 2003

Will Oldham - > Bonnie Prince Billy :



«Well, you're my friend

And can you see

Many times we've been out drinking

Many times we've shared our thoughts

Did you ever, ever notice, the kind of thoughts I got

Well you know I have a love, for everyone I know

And you know I have a drive, for life I won't let go

But sometimes this opposition, comes rising up in me

This terrible imposition, comes blacking through my mind



And then I see a darkness

Oh no, I see a darkness

Do you know how much I love you

Cause I'm hoping some day soon

You'll save me from this darkness



Well I hope that someday soon

We'll find peace in our lives

Together or apart

Alone or with our wives

And we can stop our whoring

And draw the smiles inside

And light it up forever

And never go to sleep

My best unbeaten brother

That isn't all I see



And then I see a darkness

Oh no, I see a darkness

Do you know how much I love you

Cause I'm hoping some day soon

You'll save me from this darkness»




TrashWoman

daqui fui até e li isto, há uma imagem, o azul de Bilal, depois



«é tempo de correr em direcção ao mar.

com a cabeça submersa é mais fácil

perceber que quem me quer, não me

conhece. quem quer ser meu amigo, é

louco. quem me quer foder, não me quer

conhecer. quem quer ser como eu, é ainda

mais doente que eu. quem ouve os meus

conselhos é ainda mais desiquilibrado que

eu. quem me elogia, nunca reparou na

rapariga que está atrás de mim. quem diz

que sou especial, ainda não foi abandonado

por mim. quem me quer enterrar

quer ajuda com a pá? é tempo de mergulhar fundo. sem

braçadeiras, que à superficie já está tudo visto.»

o J. partiu

nem por isso, nem por causa do facto de não sermos amigos íntimos, nem porque existe a mãe que sobreviveu ao filho, nem por isso parece haver tanto lugar para a tristeza. tenho estado por perto de muitas mortes, faz um pouco parte do meu ofício, desta vez, pela primeira vez, observei e acompanhei um pouco alguém que se preparou para a sua morte. não sei o que aconteceu. não se disse o J. (já) morreu, disse-se o J. partiu.

há coisas que nos fazem rir



uma imagem banal, certeza de algo ainda belo



incerteza de algo ainda belo

«0<*
chora o mal e o medo todo. o desgosto entornado na lágrima, no ranho, no cuspo— digo, chora baba e ranho. o desgosto refeito na dor a passo renovada. com ou sem véus negros, com ou sem lenços brancos encharcados. com ou sem a visita a cada quinze dias. com ou sem filho morto— às vezes, parece que as mulheres todas choram crias perdidas. com ou sem dentes rangendo na placa mal ajustada na boca ferindo as gengivas, ou não. chora as mãos que perderam o rasto, o rosto, o rasto do rosto e que, hoje, se cobrem alguma coisa, é a incerteza de algo ainda belo— tantos os perigos da beleza na representação da dor. com ou sem grito abafado— cada mulher carregando um enlutado ai de parto.

chora e descansa. deixa estar que é só terra, deixa estar que é só mais a cal. descansa.
»

bomdia, sol, é preciso muito sol





um sorriso e a vontade de não derramar, pelo menos por fora

the point of no return

ninguém suportaria ver uma criança a chorar. começa o ano, e fazendo um zapping pelos canais de informação encontramos viagens entre as imagens do sudoeste asiático e os balanços da tragédia política nacional, seguidos da aterradora previsão para 2005. mas as imagens da criança a chorar impedem qualquer concentração nos debates sobre a situação do Estado. é claro que não estou a fazer nenhum resumo filosófico sobre a existência. estou apenas a teclar porque é uma tarefa que se apresenta possível. fui ver o polar express e correram-me lágrimas pela face, dei algumas risadas, depois comecei a pensar nas mensagens que enviam às crianças, até que cheguei a um pensamento mais pessoal, reparei, para que serve o Natal, porque não sou diferente dos middle class people a que pareço pertencer, percebi. o Natal serve para reforçar a memória do dia em que escolhi a vida sem vós. reavivar a imagem de crianças a chorar. lembrar que não ressuscitei, apenas vou reanimando partes de mim. talvez isto seja mesmo um palco. a verdade está morta.

Mors

Victor Hugo