sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

nas horas em que te amo *

Isto é muito bonito.

Isto é bonito porque eu olho para isto e sinto o sol na pele, e o amarelo, digo amarelo quando olho para a fotografia, amarelo clarinho. E tenho a certeza de que amarelo clarinho não é piroso e penso que espero que não apareça aí um especialista da qualidade porque não me apetece aturá-los. E mais, tenho mais certezas. Por exemplo, tenho a certeza de que, ao dizer que isto é uma fotografia estou francamente em erro, pois isto é um fotograma.
Isto é um fotograma bonito, passo a explicar: 


enquanto olho esta imagem e à medida que vou sentindo o sol na pele vejo passar uma série de dias possíveis e a música mantém-se de pé e imagino que as minhas mãos cheiram a laranja duma laranja específica que tenhamos apanhado da árvore dois ou três metros atrás ou ao lado e a laranja soube tão bem soube tão bem e guardaste cascas no bolso das calças agora tingidas e vamos falando e com os dedos concentrados vamos partindo cascas em pedacinhos fazendo formas e rindo porque entretanto as formas deram para a risota e eu agora chego à casa bonita e exclamo que são brancas glicínias brancas e tu sorris eu sei que sorris a olhar e eu não meço a luz simplesmente faço passar o rolo e clique espero que saia dali uma fotografia que jamais será aquilo que acabei de ver mas antes uma surpresa afinal um fotograma de onde possamos tirar dias com sol na pele ou a chuva cá fora e quiçá a coragem da chuva mesmo na pele na língua nos nossos corpos a chuva e depois o sol depois da chuva e este fotograma com pingos a cair das folhas e eu a dizer que este amarelo é daquele amarelo clarinho que eu nunca consigo descrever com estas danadas das palavras e que as pessoas terão simplesmente de confiar em mim e fechar os olhos e pensar amarelo clarinho enquanto olham este fotograma e depois fomos embora mas não antes de vir o dono da casa conversar comigo acerca das glicínias e de roseiras de santa Teresinha e nos desejarmos um bom resto de Domingo e regressarmos à rua da casa da tua mãe dos teus pais a tua casa e almoçarmos alguma coisa bem deliciosa que a tua mãe tenha preparado para o nosso almoço com tanto amor com tanto amor que é preciso repetir com tanto amor não por razões de estilo mas de amor o amor de mãe como tenho a certeza de que a tua mãe terá incluído alguma coisa amarelo clarinho no teu enxoval e garanto que esse amarelo clarinho foi de certeza deste e tenho tanta certeza quanta aquela que é certa sem prova dos nove quando me respondes que dois mais dois são três ao mesmo tempo que ouvimos a canção cujo nome diz que dois mais dois são cinco e eu olho este fotograma e digo amarelo clarinho


* título repescado do baú

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