o corpo ausenta-se do espaço II, III e IV, Carlos Veríssimo |
Doeu-me, mas não parei. Li-te até os meus olhos se esconderem. E vi-te. Via-te sempre na tua escrita. Não é um lugar comum nem é como se tivesse sido ontem. Fica já por aqui o assunto antes que resvale porque acabei de me lembrar de uma coisa e esta conversa ia para a maldade para aquilo para a risota. E hoje não estou a pender muito para ela, a risota, desculpa.
Sei lá porque é que estou a pedir desculpa, que pergunta.
Olha, por causa do delito vital que me traz corcovada, deste erro de se ser triste.
Sou, e depois?
Bom, é engraçado, agora que penso nisso: nunca fui triste ao pé de ti.
Bom, é engraçado, agora que penso nisso: nunca fui triste ao pé de ti.
Sorriso.
Era curiosa, contente, de bem, assustada, meio-medrosa, mas não me recordo de tristesse. Ah, e desiludida, sim, por duas vezes, mas não sei se contam porque não estávamos ao pé um do outro, estávamos de cada lado do messenger.
A desilusão foi minha, de mim. Da vez em que te zangaste comigo, lembras-te? Não te zangaste assim como quem estava mau comigo mas de mal comigo, e tiveste um bocado de razão, toda não, mas um bom bocado. Estou quase a redimir-me dessa, tu sabes que sim (sabes?). Passaram quantos anos dessa discussão? Quatro. Cinco. Três. Não sei. O tempo nunca medra.
Houve a segunda vez, pois houve, sou exímia a desiludir-me comigo e a sabê-lo no exacto instante, para saborear tudo duma vez.
Fiquei com o sol todo na recordação da pele, que é para aprender.
Está o dito pelo não dito, para guardar segredos que esgravatem nas horas. Não tenho certeza de ser isto o que fazem as pessoas desconsoladas.
Sou cheia das datas, e das cenas, guardo tudo. Ontem fiz tanta palermice, havias de ver. Começando por estar "incompreensivelmente" triste até ao sono imenso que bebi para dentro de não-sei-quantos cafés a tentar esconder essa tristesse. Cena marada.
Isto agora ia bem era a escrever a negrito, em azul. Claro. Mas não posso, não mo permito. Sabes o que fiz ontem? Pois. Nada de mais, coisa habituée, afinal.
Olha, moço, funciono assim, não me levas a mal, sabes que seria um lapso da mecânica. Quando dei conta do que a minha terceira cabeça ia fazer, e depois de a inverter para evitar a todo custo ferir sensibilidades legítimas, amanhei a tal desculpa que procurei o dia todo. E entrei a ser assim como sou: profundamente triste e desiludida e a rir.
Voilá.
Todo este estado a negrito, em azul.
Fui ler-te, descansada, a magoar-me intensamente. Chupei feridas nos teus poemas. E engoli de lá tudo o que havia de nobre em ti.
Com o sol
ainda,
todo,
na invenção
da minha pele.
ainda,
todo,
na invenção
da minha pele.
2 comentários:
Sandra....gostei muito, porque foram vários os sentimentos que fluíram deste pequeno (em tamanho)-grande(na eloquência) texto.
Beijinhos
Patrícia Bettencourt
Beijinhos, Patrícia
obrigada
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