sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

thy way


O sono nunca acaba interrompe
Vinda de limiares excedidos
Ambicionava o fim
Do sono esqueci o pulso
Demorei confusa e o coração
Preso à razão entre traduções
De hipóteses sem verdade
Bafejou. E eu avanço
A descansar.


Que a consciência ordena
Além dos guinchos braços retorcidos
O prejuízo menor mora no travesseiro.

Labutamos a apalavrar o reforço
De verdades confortáveis
A acreditar n’elas incertas.


O sono ambicionava o fim
E o coração sem verdade
Apalavrou o reforço decifrou
Esquemas sobre esquemas sobre
Esquemas. Esqueletos e resumos.
O fim adormeceu no pulso. O bafo
Avançou uma hipótese
Sem tradução atrapalhou sono pulso
Interrupção fim verdade descanso.

E eu avanço.

[ silêncio ]

Cometi justiça encarregados os escrúpulos
bens dos haveres reverti dias e ontem.
Expeditamente provei actos sem omissões.

Agora sono enamorada.



[ limpa-te ]

Dentro do peito fazes crença
Mouca atenta ao sangue
Silencioso limpa-te
Entre as vagens
Escarafuncha o melhor sumo
Bebe deita-te em segredo

Perfura os arsenais brancos


És inútil

Das guerras não sabes
Mercar batalhas

Crês na palavra insistes

Vê a sarna a criar o peito
Emana na aflição esquecida
Pela paz escondida do leite

Maternal hás-de ser mortalha
Sôfrega a luta houve não faças
Crenças moucas mudas
Ao sangue silencioso limpa-te.






photo de Desiree Dolron

[ ar ]

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Caso primaveras
ao Inverno

não sou ave
respiro.

.

[ (que a pele cerze vidas nas estações) ]

casco outonos em paz
descanso
colo árvores

em flor





still do filme Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera de Kim Gi-deok [Kim Ki-duk]

[ evidência ]

Jamais soube o que é estar de pé
em equilíbrio inventei estes modos
ver cores a estremecer os meus olhos
são a inquietação lágrimas como contas
dum colar partido à luz. Não aguento
um esgar, não aguento encarnações
de dor sou uma fraca que engendrou
a religião da outra face cedo ouvi a lenda

ficou impregnada nas minhas rosas.


Que hei-de fazer a este jeito que choro
até ao afinco do ardor nas órbitas só
consigo filtrar a beleza como absoluto.

Que hei-de fazer a este jeito que me traz
tal intervalo um néon. Eu escrevo.
Largo o tremor das mãos a cada palavra
continuo sem saber. Este jeito há-de ser
o meu fim. (este jeito a ser inícios de mim)

Como podereis constatar gaguejo.




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photo de c


dedicado...
a mim e aos colos insuflados
à
Marta, por escrever:

O coração não abrevia
antes desata os nervos,
a inspiração
no arremesso das palavras.

[ o meu avalo ]

Como se para sempre
Fora para sempre,
Por exemplo,
Vozes humanas calam-se

A barriga arde em pacto com dormência
Dorsal, há-de ser um nervo interdito
Pelas espinhas, o mundo presta
Tanto quanto eu, todavia contemplo bondade

Aprecio a dormência a deter-se
O coração não abrevia

Ressaco na intermitente pena
repete-se
na minha cabeça
a ressaca

de mundo



Abono direitos de desdizer

Calo provérbios do povo
Mais cega fora, não quis ver
E não merece castigo o que é
Abafo do mal menor
Não fostes vós, sou eu

Retraída a matar inícios inúteis
Sinto o sol na cara, sem paladar acre
Resguardada do desprezo e à mercê
Dos ditos ajuizados nada confirmo
Por isto, venho avalizar as árvores
Que quero rodear de mãos e assentar
Com os meus amores, com o meu amor.


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{ abraço }


Espera
estes não são os beijos todos.



Silencio
tenho para mim esses beijos.

Oh. Dos braços calo-me
a bambolear saudade.


photo de My Blueberry Nights - Wong Kar-Wai, descaradamente surripiada à menina-limão

cenas & vocação

Tenho faltado ao cinema
Aqui na terra não é como no céu

Há filmes hediondos de metragens
idênticas a Sentenças Sem fim


Tenho faltado tanto ao cinema
É este receio

Sei que estou a desenvolver
As artes de performance

Corajosa
É este receio

A meio da fita, saltar
Iluminada pelo projector
Interromper a matiné

Deixar a plateia incauta
boquiaberta
Com esta actriz que nasceu.



photo

[ entre extremos neutros ] *

O gato não pára de falar
não lhe ladrei para que se cale
diz de tudo, diz as conveniências necessárias
à purificação destes extremos neutros

sussurro a cinza
hipóteses
vê-se o meu bafo no gelo

o gato continua, não pára

finjo-me distraída a pintar as folhas
de embrulhos
oferendas decoradas com análises
de meta-vivência

desenho mais e mais
o gato não se cala, aproxima-se
chego uma cadeira vazia para mim

sobe a cadeira num pulo
deita-se à minha beira
o gato cala-se, ronrona

desenho corações, estrelas
flores, borboletas, velas
abelhas
desenho ramagens variadas
coloridas
aves
desenho dentro do espectro que vai
de um extremo neutro ao outro
extremo neutro
na minha fórmula caseira
descanso.




* expressão surripiada à menina-limão ali



imagem surripiada ali

{...}

.
Continuamos sem notícias tuas
Ontem ficámos quietos a ouvir
A noite que estrangulava a luz

Dentro do nevoeiro havia vida
Sebastiões anunciados uivavam

Agora agarramos a manhã sós

Amanhã escreveremos epitáfios no musgo.



Moss, 2001, c-print on dibont with foil, 125 x 100 cm, Jannie Regnerus
photo surripiada à
Coelha

[ mutações ]

.
A certa parte da batalha tropeço
Coberta de lama em nada poética
Chegam os passados de morgues
E cangalheiros em nada poéticos

Urge embriagar o coração penhorado
Segue o calor pelos tubos fisiológicos
Abaixo a corrente que fora laço
A insónia da lucidez persiste

Na razão a aflição prossegue perversa
Porém essa razão responde o sussurro
Que a batalha tem fim destinado

Se esta vida é uma guerra com fim
Nesta morte fecho os olhos
Vejo vinha virgem, não vejo glicínias.


título e photo surripiados ao c

{...}

Trago-te tão longe daqui

caminho a passos brandos
de mãos inquietas
sigo tarefeira a fingir
sigo
a interpretar alguém
que não existo


cogito,
a ser entidade, sou de tão longe
daqui

sou daí, onde as minhas mãos aquietam
de pele.

Puttelaar 10 [47 kB]
photo: Carla van de Puttelaar

[ lex II ]

Serei o meu último
recurso

serei o que tenho
nos olhos

é provável que engasgue
a esgravatar nas tripas
a magicar castigos e sede
(exercícios apenas)
(é provável).

Na prática,
o dia há-de acabar e eu suja
de feridas
limpa
regressarei
com os do meu regaço
e as mãos inchadas
d’O meu sangue
revolvida
resolvida.

Gritarei
Iustitiae na pele.


dawn no.1, 1959
Jan Saudek

My Big Fish

Desmaio?
Re: Não.
Ainda há heróis
amolecidos.

Estarei a estiolar?
Re: Não.
O meu corpo é coberto
amolecido de ti
uma flor.


Ajo?
Re: Broto coragem.

Traslado esta querença
num beijo
num poema
até completar a ode
ao teu amolecimento.