cinzelar a burrice juvenil
entontecido na melancólica bicicleta
percorrias
os frios provinciais cuidando
distinguir uma pontinha já de Primavera; em vez dela tombavas
no incalculável prejuízo dos versos, moléstia à parte
e na estação errada
sempre as laranjeiras flóreas, cúmplices
caladas na incumbência de produzir a imperceptível alegria
que recendia sem parar na fiada odorífera das ruas
também o lumaréu dos limoeiros
desprendendo
cheiros que portões de ferro, caiados muros
puderam nunca aquartelar
e em Lisboa, apeado no imaturo homem
bárbaro, barbado em que te mudaste, a fumarada das sardinhas
avioletou na doçura dos jacarandás; o sexo
agora vezo e hálito, exala a ácida variedade
que nunca te nauseou
depois os europeus odores, centrais
ou varado nos velhos comboios do Leste
porcos, gastos, alvoroçados
lavatórios do mundo onde lavaste as cuecas
evitando tocar nos ralos
tudo para chegar hoje a uma ideia de Índia
suposta, sonhada, odor infindável de um sem-fim
perfumado, onde pudesses compreender
a colorida arquitectura do ar
a suave dimensão da espessura
a girar no vazio um dia inteiro
Miguel Manso
livro em preparação, 2012
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