mudo significa não ser capaz de emitir som. hoje queria que o mundo não emitisse sons, parecer um filme mudo, digo, apenas expressivo. (apenas?!) às vozes, não as queria ouvir, à chuva, ao vento, também não. perdi o meu chapéu impermeável, lá peguei no chapéu de chuva, perdi-o também, perdi-o é como quem diz, deixei-o num balde, à entrada duma loja, quando o fui buscar de novo, ZÁS!, "espero que tenha sido alguém a levá-lo por engano", verbalizei para mim, ao que uma senhora bem intencionada me aconselhou "agora escolha um e leve-o também" (!!!). enfim, ver o mundo mudo, eu bem disse que não queria ouvir as vozes. gosto de apanhar molhas, mas hoje fui mais responsável, pensei nas gripes e nas pneumonias, lá entrei num café para não ficar ensopada. bebi um café que não me apetecia e deixei o bolo que também pedi e não me apetecia. na mesa ao lado a conversa entre pai e filha não queria ouvir. pai a viver separado da filha, levou-a a um café para um lanche, a conversa divorciada das vidas separadas, o ar da filha de quem não quer estar ali, o ar do pai de quem gostaria de estar com a filha onde ela gostaria de estar, como, digo, como gostaria de estar. a grávida que bebia um copo de leite, "morno", pediu ela. o escritor que tinha a página a meio de palavras escritas a preto. o casal de namorados a lanchar em silêncio. os turistas que reavivaram a memória. chuva, muita chuva, fria, havia quem estivesse a trabalhar à chuva, muito vento. foi aí que o mundo ficou mudo.
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