sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com
ainda assim, sorrimos
Espero que me venhas buscar para almoçarmos todos juntos, uma raridade nos dias inúteis. Faço planos e sorrisos, este é o final do ano para gente como nós, working 9 to 5 (quem dera que assim fosse), what a weird way to make our living. E amo-te tanto.
E amo tanto tudo isto de que somos feitos e o que fazemos neste corta-mato, jogo de estafetas, contra o que nos coloca amiúde no medo do medo, nos tenta minar, mas não, nós não. É que: ainda assim, sorrimos. Gostamos disto.
O que tenho por certo sobre nós: gostamos de gostar.
E amo tanto tudo isto de que somos feitos e o que fazemos neste corta-mato, jogo de estafetas, contra o que nos coloca amiúde no medo do medo, nos tenta minar, mas não, nós não. É que: ainda assim, sorrimos. Gostamos disto.
O que tenho por certo sobre nós: gostamos de gostar.
quando ler nos deixa "bem ca puta da vida"
isto tudo surripiado ao fallorca
Nem sempre a lápis (195)
Terminava assim:
[até Jajouka, Monte Alto / Mortágua, Maio / Setembro de 2006]
«Gostava que este livro, se vier a ser um livro, soubesse a pão e a sal, a peixe frito e a harira, a água fresca e a chá, que as páginas ofuscassem como a prata do mar de Asilah e os dias luminosos do Rif, cegassem como os campos do baixo, em Agosto, e acendessem trilhos no mar como a Lua Cheia na Fortaleza; fossem impressas a buril nas encostas xistosas das Laceiras e apagadas pelos cascos do gado afugentado por um velho Land-Rover; falassem várias línguas comuns, sem idade nem sotaques, apátridas e abrangentes, que nelas se ouvissem várias vozes numa só voz e ribombassem as trovoadas secas de Maio e de Setembro e os relâmpagos iluminassem as páginas de um rosto apresentado como figura tutelar e exemplar, sem exigências nem cedências recíprocas; fossem rasgadas pelo estertor primário da matança de um porco numa aldeia de Mortágua, pela sinfonia da água a correr de um bica de metal para uma pia de granito, em Salgueirais, pelo silêncio frio da serra do Caramulo e pelo silêncio calcinado dos cerros algarvios; fossem interrompidas pelo canto das popas e abelharucos, riscadas pelo voo rápido das andorinhas, mas sustentando bem alto um predador atento ao mínimo movimento da presa que se protege da canícula; gostava que nelas fumegassem fogareiros de barro e lareiras de sobro e de giesta, cheirassem a forragem cegada e a tagine, a chuva e a cães molhados regressados da caça, a pomares devassados pelas abelhas e a vinhas vindimadas, como cheira o teu cabelo quando sais do mar.
Gostava que este livro, se tiver de ser um livro, ao folheá-lo sentisse o toque da tua pele e ouvisse a tua respiração enquanto dormes; permanecesse secreto e inacabado, escrito e reescrito como o livro que me recuso a escrever, onde não houvesse lugar para lugares-comuns e, à falta de melhor, o silêncio se impusesse à previsível conclusão de cada período; fosse um palimpsesto onde latejam outras páginas, em branco e decifráveis, sobrepostas como sucessivas camadas de cal dos montes do Sul, como escamas de ardósia dos derradeiros telhados da Beira, comunicativas e arejadas como açoteias de Tânger e de Asilah; memória amnésica, fronteira de fronteiras derrubadas.»
30
(de Setembro)
Já arrumei a mochila e atestei o Land-Rover. Esta madrugada arranco até Jajouka. [até Jajouka, Monte Alto / Mortágua, Maio / Setembro de 2006]
uma falha
tenho falhado em deixar-vos aqui o link do blog-revelação-dos-últimos-tempos:
tem livros, obviamente
é fútil, comme il faut
tem conselhos à medida do freguês
tem fregueses decididos:
Freguesa coloca Kama Sutra sobre o balcão.
Livreira Anarquista: Quer que faça embrulho?
Freguesa: Não, é para usar já.
Livreira Anarquista: Quer que faça embrulho?
Freguesa: Não, é para usar já.
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