Hoje, 16 de Abril, comemora-se o Dia Mundial da Voz.
Eu até escrevia aqui umas coisas sobre a voz, mas estou francamente cansada e acho que não me merecem um copy-paste reles; agora apetece-me poesia, fui ao blog de uma poeta amiga e pesquisei na barra do blogger "voz Maria Sousa", publico os resultados:
~ ~ ~
para os lugares que me faltam no interior do sono
tenho metáforas
ao falar do sabor que o vento deixa nos lábios
quando a voz tropeça nas sílabas
eu serei sempre a que abre as palavras na garganta
Terça-feira, Abril 14, 2009
o modo súbito de ficar parada
quando às vezes há soluços no avesso da voz
aperto as mãos para dar cor à pele
sem te saber perguntar pela ausência
se estivesses aqui,
como quem fala do tempo,
não te iria dizer que
por cima da voz há relâmpagos
Quarta-feira, Outubro 22, 2008
O processo de contar histórias é sempre lento
começa-se pelo inicio
e há quem diga que chegar ao fim é simples
uma frase é a melhor medida
para juntar os fragmentos
e se a noite a subir pela voz
é um método de fazer silêncios
e o coração é um órgão que
espreita pelos buracos da gramática
no fundo é porque têm um corpo como fronteira
Quinta-feira, Outubro 09, 2008
com a garganta cheia de sombras
(sítios que antes sublinhavam a tua ausência)
quero dizer-te que a voz é um juntar de perdas
quando neste lado da fala não há janelas para o silêncio
fica um arrepio de insónia a escrever vazios
Domingo, Março 02, 2008
tenho-te na pele como voz
que ainda não tive tempo de despir
faço uma pausa, escolho um vestido novo
mas mesmo assim fico um adereço imperfeito
no teu esquecimento
Terça-feira, Maio 15, 2007
tudo o que não é voz são lençóis
onde me estendo como cicatriz
como quem arruma a noite numa cama estreita
os gestos pairam na sombra que
vai dos lábios ao primeiro silêncio
depois do vermelho atravessar as feridas
todas as cores são cortinas
Quinta-feira, Março 22, 2007
Em dias de sílabas que
talvez consigam dar sentido ao ontem
(é aí que te arrumo)
há sempre os primeiros sons quando do outro lado
da voz as palavras estão vagas
com o frio a roçar a garganta
tudo está destinado à fala
dizem que há métodos para abrir o resto da respiração
Quarta-feira, Fevereiro 14, 2007
A mulher
organiza as sombras para evitar o escuro
na pele sente o medo
é prudente na batalha com as perguntas
que pousam no dia
sorriso
quando o som do telefone invade a sombra
nenhuma palavra lhe sai da voz
deverá falar como se fossem outras coisas a
respirar em vez do grito?
à janela, o vento e o sol, limpam-lhe as vozes
sobrepostas a dizer aquilo que a voz não diz.
mas não hoje
disse que não seria capaz de mudar
perdida no quarto, pequenino, onde utiliza os hábitos
como movimentos grosseiros
nenhuma palavra ali tem asas
fica apenas o silêncio onde a mulher fecha
as persianas e depois as cortinas
sem explicar o sentido do grito.
Quarta-feira, Dezembro 13, 2006
escrevo o que ainda conheço
nomes de ruas, pássaros, árvores
monólogos de quem ainda fala alto
é a minha voz ou a tua?
como se tudo fosse uma metáfora sem fim
lá fora a chuva confunde-se com gestos
falamos do tempo, ponte entre o silêncio e o nada
ouve, quando não fores capaz de falar, toca-me
Sábado, Outubro 07, 2006
olha, cruzo os dedos como resto de um gesto
para marcar território sento-me no quarto
guardo as ilusões nos bolsos
recomeço onde outras bocas já colaram
legendas à cama vazia
(não te percas a revisitar o sono)
o musgo invade o quarto
sobram silêncios a espalhar vozes
na rua traseira há árvores e gestos lentos
em ecos feitos de pausas
metade de mim procura as palavras certas
para mover a voz uso espelhos
sem saber para que lado olhar
(parábola de movimento e respiração)
Quarta-feira, Setembro 27, 2006
~ encontram
estes poemas, originais de
Maria Sousa (aka lebredoarrozal) no blog
there's only 1 alice ~