Hoje, Sábado, com uma lista enorme de afazeres domésticos e profissionais, vou para a rua usar as horas da minha tarde para me manifestar. Não estou crente de ser a solução para os nossos problemas, mas sei que tenho de o fazer, porque é precisamente *parte* do-que-posso-fazer. Faz parte da nossa voz. E isso não podemos deixar esvair-se.
Todos os dias, faço o-que-tenho-de-fazer.
O-que-tenho-de-fazer consiste numa série de coisas. Dessas coisas que todos vós também têm-de-fazer. E faz-se. Porque, embora as semanas seguintes ao regresso de férias sejam habitadas de sonhos de “amor e uma cabana”, uma pessoa acaba sempre a saber divertir-se no meio destas invenções das responsabilidades e da vida em sociedade e das liberdades mútuas. Umas vezes melhor, outras vezes pior, mas consegue-se fazer. De resto, é muito complicado para mim, leiga, discutir essas coisas de forma sistematizada. Sei o-que-tenho-de-fazer e, embora não deixe de ser pensante e ter espírito crítico, cumpro com os compromissos que eu aceitei (mesmo que muitos me tenham sido inevitavelmente impostos).
E ando a lidar com tudo o que me têm vindo a tirar – subsídios, reduções de ordenado, aumento de impostos, aumento dos bens de consumo, etc. E sei que sou privilegiada porque, embora vivamos nesta “instabilidade filha da puta”, ainda assim, vamos conseguindo gerir os meses. E vivemos com o fantasma do desemprego pois a parte maior do orçamento familiar trabalha na área mais instável do momento - a construção, e não gosto quando imagino o que será ficarmos assim, de um dia para o outro sem esse rendimento, com um empréstimo de habitação e sem mercado de emprego na área. Mas o pudor impede-me de me queixar. Porque todos os dias vejo necessidades criadas por esta actualidade que me fazem revoltar as vísceras.
E eu já disse que sim, vou sabendo viver com isto. Pior é não ter saúde. Esta frase não é um lugar comum: pior é não ter saúde. O resto faz-se.
MAS, há uma coisa com a qual nunca me vou conformar ou procurar forma de contornar: o fim da democracia.
Desde o célebre desabafo da Manuela Ferreira Leite sobre o desejo da suspensão da democracia por 6 meses “para pôr isto no sítio” que os fascistas sentiram um espaço para se começarem a revelar. E não têm dado tréguas. Ainda a semana passada, ouvimos o Alexandre Soares dos Santos e o Fernando Ulrich fazer declarações que, no cerne da mensagem, nada mais são do que propostas de suspensão da democracia. E, o pior de todos, o presidente da república.
Sei que sou uma pessoa idealista e, por muitos, considerada ingénua, mas não chego ao ponto de acreditar no bem-querer destas pessoas a Portugal. E já nem sequer fico admirada quando oiço este tipo de declarações. Estou convicta das intenções criminosas destas pessoas. Destas e das do resto da Europa. Isto - o fascismo, está a acontecer, gente!
Já não se trata de custo de vida, mas do custo da vida.
Sou portuguesa, mas também sou canadiana. Amo ambos países. Agora vivo em Portugal, é a minha opção, é o meu desejo. Actualmente, acontecem coisas na minha vida que fazem com que faça sentido que assim seja. Mas não hesitarei em partir.
Para já, vou para a rua dizer que, no que depende de mim, este país continuará a ser uma democracia porque questões económicas e filosóficas que exponham as fragilidades do sistema democrático não servem nem justificam a sua suspensão.
Não, não dou autorização à troika e aos patifes que nos governam para a suspensão da democracia. E vou dizê-lo hoje para a rua, porque faz parte da nossa voz. E deixar esvair-se esse direito é o derradeiro passo para o fim da vida como a conhecemos hoje.
25 de Abril, sempre
Sempre!
Vamos lá.